quinta-feira, 12 de junho de 2025

A Participação Feminina como Algo Consolidado, Porém Ainda Pouco Conhecido e Visto com Preconceito

 

A Participação Feminina como Algo Consolidado, Porém Ainda Pouco Conhecido e Visto com Preconceito 

Por Diego de Almeida (do livro "Instruções para o Grau de Aprendiz Maçom")

A participação feminina na Maçonaria, embora uma realidade sólida e crescente em diversas partes do mundo e em muitas Obediências, ainda é largamente desconhecida pelo público em geral e, lamentavelmente, é frequentemente vista com preconceito e mal-entendidos. Para muitos, a imagem da Maçonaria permanece ligada a um universo exclusivamente masculino, um clube secreto de homens, e a ideia de mulheres maçons pode soar como uma contradição ou uma novidade estranha. Essa falta de conhecimento e o preconceito derivam de várias fontes: 

1. Hegemonia Histórica e Midiática da Maçonaria Masculina: A Maçonaria masculina, sendo a forma mais antiga e numericamente dominante, recebeu historicamente a maior atenção e cobertura midiática. Filmes, livros e a própria cultura popular perpetuaram a imagem de uma Ordem exclusiva para homens, o que naturalizou essa percepção no imaginário coletivo. As Obediências mistas e femininas, embora com mais de um século de existência em alguns casos, são menos visíveis. 

2. A Doutrina dos “Landmarks Imutáveis” por Parte da Maçonaria Regular Masculina: A Grande Loja Unida da Inglaterra (UGLE) e as Obediências a ela ligadas, que constituem a corrente mais numerosa e amplamente reconhecida da Maçonaria Regular, mantêm a exclusividade masculina como um “landmark” essencial. Essa posição, embora legítima dentro de sua interpretação, contribui para a ideia de que a Maçonaria “verdadeira” não pode ter mulheres, marginalizando as outras correntes. Isso gera confusão e descrédito sobre a regularidade e a autenticidade das Lojas que admitem mulheres. 

3. Desconhecimento da Pluralidade Maçônica: O público em geral, e mesmo muitos Irmãos da Maçonaria masculina regular, desconhecem a vasta pluralidade de Obediências maçônicas que existem. A ideia de que há uma única Maçonaria monolítica e que todas as Lojas devem seguir os mesmos preceitos é um equívoco. A Maçonaria Liberal e Adogmática, que inclui a maioria das Obediências mistas e femininas, opera sob princípios diferentes de reconhecimento, priorizando a liberdade de consciência e a igualdade. 

4. Preconceito Social e Machismo Estrutural: Lamentavelmente, parte do preconceito em relação à Maçonaria feminina e mista reflete um machismo estrutural persistente em muitas sociedades. A ideia de mulheres ocupando posições de liderança em uma organização tradicionalmente masculina ou praticando rituais “secretos” pode gerar resistência e desconfiança, alimentada por visões conservadoras de gênero. 

5. A Própria Discrição Maçônica: A natureza discreta da Maçonaria, que preza o silêncio e o trabalho interno, contribui para que as atividades e a existência das Lojas femininas e mistas não sejam amplamente divulgadas. Embora não sejam secretas no sentido popular, a discrição natural da Ordem impede uma publicidade que poderia ajudar a desmistificar a questão. 

No entanto, é crucial reiterar que a participação feminina na Maçonaria é, sim, algo consolidado. Milhares de mulheres em todo o mundo são Maçons ativas, trabalhando nos graus simbólicos e filosóficos, dedicando-se ao aprimoramento pessoal, à prática da caridade e à construção de uma sociedade mais justa e fraterna. Elas mantêm Lojas, templos, realizam rituais, estudam filosofia e história maçônica, e contribuem significativamente para a Ordem e para a sociedade. 

A importância da mulher para a Maçonaria, e por extensão para a sociedade, é imensa. Elas trazem uma perspectiva única e complementar para o trabalho iniciático. A sensibilidade feminina, a capacidade de nutrir, a força na adversidade, a visão intuitiva e a resiliência são qualidades que enriquecem o ambiente maçônico e a egrégora da Loja. Ao integrar a mulher, a Maçonaria se torna mais completa, mais universal e, paradoxalmente, mais fiel à sua própria aspiração de refletir a totalidade da humanidade e de buscar a Verdade em todas as suas manifestações. 

O caminho para a plena aceitação e reconhecimento da Maçonaria feminina e mista ainda é longo, exigindo persistência na educação e no diálogo. Mas a realidade é que as mulheres estão nas colunas, trabalhando a Pedra Bruta com a mesma dedicação e paixão que os homens, provando que a luz iniciática não distingue gênero.

A Mulher como Símbolo na Tradição Maçônica: O Feminino que Habita o Imaginário Iniciático


 

A Mulher como Símbolo na Tradição Maçônica: O Feminino que Habita o Imaginário Iniciático

Por Diego de Almeida (do livro "Instruções para o Grau de Aprendiz Maçom")

É uma fascinante ironia que, embora historicamente excluída dos trabalhos físicos da Maçonaria dita “regular”, a mulher esteja profundamente presente no universo simbólico da Arte Real. Sua figura permeia mitos, alegorias e virtudes essenciais à senda iniciática, revelando que o princípio feminino sempre habitou o coração do templo simbólico, mesmo quando ausente sob suas colunas visíveis.

No plano arquetípico, a Verdade — meta última do Maçom — é tradicionalmente representada como uma mulher, por vezes velada, por vezes desnuda, revelando-se apenas àqueles que buscam com pureza de intenção. Tal imagem remete à ideia da verdade como essência delicada, difícil de ser plenamente desvelada, exigindo coragem, disciplina e iluminação interior.

A Sabedoria, por sua vez, guardiã da coluna Jônica, do Venerável Mestre, também assume traços femininos. A presença de Atena, a deusa grega da razão e da estratégia, ou da Sophia gnóstica, que ilumina o entendimento profundo do cosmos, remete ao feminino como fonte do discernimento necessário à construção moral do templo interior. Da mesma forma, a Justiça – com sua balança, espada e olhos vendados – personifica o equilíbrio, a equidade e a retidão, virtudes indispensáveis ao verdadeiro iniciado.

No mito de Hiram Abiff, é a figura da viúva, e por extensão, a mãe simbólica do Mestre, que evoca a ideia de origem e regeneração. O título de “filho da viúva” não é mero epíteto, mas uma afirmação da ligação do Maçom com a matriz primordial da criação e com o eterno feminino que sustenta e nutre a vida. A viúva representa a dor da perda e, ao mesmo tempo, a esperança de renascimento — um dos mais profundos ensinamentos da iniciação.

Essas imagens e arquétipos revelam que o feminino não é apenas tolerado ou esteticamente inserido na simbólica maçônica — ele é estrutural, fundador, essencial. É a matriz invisível que inspira o caminhar iniciático, a presença que oferece intuição, empatia, compaixão, equilíbrio e visão espiritual.

Nesse contexto simbólico, ganha destaque também a figura de Marianne, representação da Liberdade na iconografia francesa e ocidental. De rosto erguido, cabelos ao vento e, muitas vezes, com o barrete frígio sobre a cabeça, ela incorpora os ideais de Liberdade, Igualdade e Fraternidade — valores estes que também iluminam o caminho maçônico. Marianne, como símbolo da república e da emancipação dos povos, surge como expressão do feminino libertador, que quebra as amarras da ignorância e acende a tocha do conhecimento. 

Em um plano simbólico, ela é a guardiã da liberdade interior, a companheira invisível do Maçom em sua luta contra a tirania da matéria e do ego.

Portanto, o feminino na Maçonaria não é um corpo a ser incluído; é um princípio a ser reconhecido. Ele habita a alma dos ritos, os mitos de regeneração, os atributos das virtudes e o horizonte da perfeição moral. Ao reconhecer essa presença sagrada, não apenas se honra a Tradição — transcende-se o véu da exclusão e integra-se plenamente o humano em sua totalidade.


sábado, 7 de junho de 2025

Festas Juninas, Solstício e Maçonaria: Um Encontro de Tradições Ancestrais

Por Diego de Almeida

Festas Juninas, Solstício e Maçonaria: Um Encontro de Tradições Ancestrais

As festas juninas, celebradas principalmente no mês de junho, têm raízes profundas que atravessam as fronteiras do tempo, misturando tradições pagãs, adaptações cristãs e simbolismos esotéricos presentes na Maçonaria. Em meio à dança das fogueiras, aos cânticos populares e à celebração dos santos católicos, encontram-se marcas de um passado mais remoto, vinculado aos ciclos da natureza e aos rituais solares que marcaram diversas civilizações antigas.

O Solstício de Verão e as Tradições Pagãs

O dia 24 de junho, quando se celebra São João Batista, coincide com o período do solstício de verão no hemisfério norte — o dia mais longo do ano, em que o Sol atinge o ponto mais alto no céu. Entre os povos antigos, esse fenômeno astronômico era celebrado com rituais que homenageavam o astro-rei, invocando fertilidade, prosperidade e a renovação da vida. Celtas, escandinavos, romanos e muitos outros acendiam fogueiras em colinas, dançavam em volta do fogo e realizavam cerimônias que marcavam a união entre o humano e o cósmico. Era, sobretudo, uma festa da luz, do calor e da abundância.

A Adaptação pela Igreja Católica

Com a cristianização da Europa, a Igreja Católica, em seu processo de conversão dos povos pagãos, incorporou muitos desses rituais às suas festas litúrgicas. Assim, o solstício de verão foi cristianizado como a Natividade de São João Batista. Curiosamente, João Batista é um dos únicos santos cujo nascimento é celebrado — e não a morte —, marcando sua importância singular dentro do calendário cristão. De acordo com o Evangelho de Lucas (Lc 1:36), João teria nascido seis meses antes de Jesus, o que justifica sua festa no fim de junho, enquanto o nascimento de Cristo é comemorado no solstício de inverno (Natal, em 25 de dezembro).

As fogueiras das festas de São João, portanto, mantêm viva essa tradição ancestral. Segundo a tradição cristã, Isabel, mãe de João Batista, teria acendido uma fogueira para anunciar o nascimento de seu filho à prima Maria, mãe de Jesus. Mas, sob essa versão piedosa, esconde-se uma continuidade simbólica com os cultos solares pré-cristãos.

A Maçonaria e os Santos João

A Maçonaria, como organização iniciática e simbólica, reconhece dois patronos principais: São João Batista e São João Evangelista. Ambos são celebrados em datas solsticiais: João Batista no solstício de verão (24 de junho) e João Evangelista no solstício de inverno (27 de dezembro), marcando assim os extremos do ciclo solar anual.

Essa dupla patronagem não é casual. São João Batista, o precursor, representa a luz crescente, o início da jornada, a iniciação, a purificação pela água. Ele prega no deserto, prepara o caminho, batiza. Sua figura corresponde ao nascimento simbólico do iniciado. Já São João Evangelista, o apóstolo da luz interior, da revelação espiritual, representa a plenitude, a maturidade da jornada iniciática, a iluminação pela gnose.

As Lojas Maçônicas tradicionalmente celebram o "Solstício de São João", em junho, como uma ocasião de fraternidade, renovação moral e espiritual. Essa celebração não é apenas uma homenagem religiosa, mas um rito simbólico que remonta às antigas tradições solares e à sabedoria dos mistérios antigos. Na simbologia maçônica, o Sol representa a luz do conhecimento, da verdade e da razão — valores centrais da Ordem.

Convergência de Tradições

Assim, as festas juninas brasileiras — com seus elementos de religiosidade popular, suas danças circulares, o fogo, a colheita e a comunhão — trazem em si a herança de três grandes tradições: a pagã, com sua reverência aos ciclos naturais; a cristã, com sua ressignificação dos símbolos solares sob a égide de santos; e a maçônica, que resgata esse simbolismo em um plano filosófico e iniciático.

O "maçonismo" não rejeita o legado das tradições religiosas e culturais, mas antes as compreende à luz da razão e do simbolismo. Nesse sentido, a festa de São João transcende seu caráter popular ou litúrgico e se torna uma ponte entre o passado ancestral da humanidade e o seu ideal de aperfeiçoamento contínuo.

Para os maçons, para os religiosos ou para os amantes da cultura, São João continua sendo uma figura de transição e revelação — um elo entre a tradição e a transformação. E a festa junina, no fundo, é um convite para reacender a luz dentro de nós.


Referências:

  • Eliade, Mircea. O Sagrado e o Profano. Martins Fontes, 1992.

  • Frazer, James. A Ramo de Ouro. Zahar, 2002.

  • Pike, Albert. Morals and Dogma of the Ancient and Accepted Scottish Rite of Freemasonry. 1871.

  • Bachelard, Gaston. A Psicanálise do Fogo. Martins Fontes, 1990.

  • Bíblia Sagrada – Evangelho de Lucas, capítulo 1.

  • Pires, José Castellani. O Simbolismo de São João na Maçonaria. Editora A Trolha.

sexta-feira, 23 de maio de 2025

Bonecas em Lugar de Gente - A Epidemia Reborn

 


Por Diego de Almeida.

Bonecas em Lugar de Gente: Um Sintoma do Adoecimento Emocional da Sociedade Contemporânea

Vivemos tempos estranhos. Em meio a avanços tecnológicos extraordinários e debates complexos sobre o futuro da humanidade, uma tendência tem chamado a atenção pelo seu caráter sintomático e, por que não dizer, alarmante: o crescente número de mulheres adultas que adotam bebês reborn — bonecas hiper-realistas que simulam recém-nascidos — como se fossem filhos reais. Mais do que uma simples curiosidade ou hobby inofensivo, esse fenômeno merece uma reflexão profunda sobre o estágio emocional da sociedade e sobre o que estamos fazendo (ou deixando de fazer) em relação à evolução e preservação da humanidade.

Os bebês reborn surgiram, inicialmente, como instrumentos terapêuticos para mulheres que enfrentaram perdas gestacionais ou traumas relacionados à maternidade. No entanto, com o tempo, o uso dessas bonecas ultrapassou o campo da terapia e passou a ocupar um espaço simbólico: o da substituição da maternidade real por uma maternidade simulada, estéril, estética e controlável. A mulher que escolhe "criar" um boneco ao invés de investir no desenvolvimento de uma criança real — seja por meio da maternidade biológica, adoção ou ação comunitária — opta, conscientemente ou não, por se desconectar do compromisso fundamental com a continuidade da espécie e com a formação de novas gerações.

Essa escolha pode ser vista como uma metáfora perturbadora de um tempo em que a conveniência e a negação da dor substituem o enfrentamento dos desafios reais da vida. Afinal, um boneco não chora de verdade, não adoece, não tem vontades próprias e, sobretudo, não cresce. Criar um boneco é manter-se em um ciclo estagnado, que serve ao ego e não à coletividade. É a maternidade sem o outro, sem o futuro, sem responsabilidade.

Mais do que uma questão individual, o culto ao reborn escancara uma patologia social maior: a infantilização das emoções na vida adulta. Estamos diante de uma geração emocionalmente frágil, cada vez menos preparada para lidar com a frustração, a perda, o conflito e a alteridade. Há uma busca desesperada por controle e previsibilidade em um mundo caótico — e os bebês reborn simbolizam esse desejo inconsciente de retornar ao útero psicológico da segurança absoluta.

Essa imaturidade emocional, além de limitar o desenvolvimento pessoal, impacta negativamente na saúde coletiva. Uma sociedade que prefere bonecas a crianças, avatares a pessoas reais, relações idealizadas a vínculos autênticos, está adoecendo — e rápido. A empatia, a resiliência e o compromisso com o outro estão sendo trocados por simulacros de afeto que apenas retroalimentam o vazio existencial.

O ser humano é, por excelência, um animal que projeta o futuro. Tudo o que construímos enquanto civilização — desde ferramentas até valores morais — tem como finalidade a preservação e o aprimoramento da vida. Ao optar por não gerar, não educar e não se responsabilizar por novas vidas, há um rompimento com esse pacto civilizatório. Não se trata aqui de uma defesa cega da maternidade biológica, mas da crítica à substituição do compromisso humano por versões artificiais e narcisistas da experiência humana.

Estamos diante de uma geração que, muitas vezes, prefere cuidar de bonecos a envolver-se na complexidade da criação de crianças reais, contribuindo assim para um mundo onde a reprodução simbólica substitui a reprodução biológica, e o afeto simulado eclipsa a construção de vínculos genuínos.

Conclusão: precisamos falar sobre humanidade

A epidemia silenciosa das “mães de reborn” não é uma moda excêntrica, mas um alerta: estamos perdendo o sentido de pertencimento à coletividade e ao tempo. A humanidade não sobrevive de bonecas, de fantasias, de negações. A humanidade se preserva com vínculos verdadeiros, com a coragem de enfrentar a dor, com a responsabilidade de gerar, cuidar, ensinar — mesmo diante do caos.

É tempo de acordar do delírio emocional que nos mantém infantilizados e de retomar o compromisso com o que há de mais nobre em nossa condição: o de criar gente, não bonecos. O de cuidar do futuro, não apenas de nossas próprias carências.


quarta-feira, 21 de maio de 2025

Do Feminismo da Dignidade à Vulgarização da Imagem Feminina

 


Por Diego de Almeida

Do Feminismo da Dignidade à Vulgarização da Imagem Feminina: Um Olhar Crítico sobre os Rumos da Luta das Mulheres

No século XIX, o feminismo emergiu como uma necessidade urgente diante das gritantes desigualdades entre homens e mulheres. Era uma época em que as mulheres sequer podiam votar, tinham acesso restrito à educação formal, eram excluídas das universidades e tinham sua existência jurídica atrelada à figura masculina — pai, marido ou tutor. Lutavam por direitos elementares: a autonomia sobre seus corpos, a possibilidade de estudar, trabalhar, opinar e decidir os rumos da própria vida.

Figuras como Mary Wollstonecraft, autora do clássico A Vindication of the Rights of Woman (1792), foram pioneiras ao defender que as mulheres deveriam ter acesso à mesma educação que os homens para poderem ser cidadãs plenas. Elizabeth Cady Stanton, nos Estados Unidos, organizou a histórica Convenção de Seneca Falls em 1848, considerado o marco do feminismo moderno. Na França do século XIX, Maria Deraismes, escritora, jornalista e ativista francesa destacou-se por sua defesa incansável dos direitos civis das mulheres e da laicidade do Estado. Deraismes foi uma das primeiras mulheres a lutar abertamente pela igualdade jurídica e educacional entre os sexos, e seu ativismo ultrapassava as barreiras políticas e religiosas. Em 1882, ela fez história ao tornar-se a primeira mulher iniciada em uma loja maçônica na França, desafiando normas estritamente masculinas da época. Seu engajamento combinava razão, moral e ética, promovendo uma visão do feminismo fundamentada na dignidade, no conhecimento e na justiça social — um contraste marcante com parte das expressões contemporâneas do feminismo, que por vezes sacrificam esses valores em nome da exposição ou da provocação. 

No Brasil, Nísia Floresta escrevia e publicava textos em defesa da instrução feminina e da liberdade civil das mulheres, enfrentando preconceitos em um país ainda escravocrata e patriarcal.

Esse feminismo original estava profundamente ligado à dignidade humana. A mulher exigia ser tratada como sujeito moral, racional, dotado de inteligência e consciência — alguém que não queria apenas “ser livre para fazer o que quiser”, mas ser reconhecida como parte ativa da sociedade. O corpo feminino, nesse contexto, era algo a ser respeitado, e não explorado como mercadoria.

Contudo, ao olharmos para algumas expressões atuais do chamado “feminismo contemporâneo”, especialmente na indústria cultural e de entretenimento, parece que houve uma inversão preocupante. A bandeira do empoderamento feminino tem sido frequentemente usada como justificativa para a exposição excessiva do corpo, para a vulgarização da sexualidade e, em alguns casos, para o cultivo de uma imagem de superioridade feminina mascarada de liberdade.

Artistas como Anitta, Cardi B, Megan Thee Stallion e outras representantes do chamado “feminismo pop” têm influenciado milhões de jovens ao redor do mundo. Suas músicas e apresentações trazem coreografias explicitamente sensuais, letras que exaltam a objetificação do corpo e discursos que confundem liberdade com libertinagem. Em um clipe recente, Anitta aparece em trajes mínimos em um contexto altamente sexualizado, cantando versos que, em vez de promover reflexão ou autoestima, reduzem a figura feminina à sua função sexual e ao poder que isso pode exercer sobre os homens.

É inegável que cada mulher deve ter o direito de se expressar como quiser, e não se trata aqui de moralismo ou de controle sobre o corpo alheio. No entanto, é necessário refletir: a hipersexualização da mulher na mídia, vendida como forma de empoderamento, de fato contribui para a valorização feminina? Ou estamos diante de uma nova forma de submissão, agora moldada pelo consumo e pelo desejo do mercado?

A publicidade, a música e as redes sociais se alimentam dessa imagem da mulher como “livre, sensual e dominante”. Mas, paradoxalmente, ela ainda continua sendo explorada — agora por si mesma, muitas vezes de forma inconsciente, em troca de likes, engajamento e capital simbólico. A mulher que antes era oprimida por um sistema patriarcal, hoje corre o risco de se tornar cúmplice de sua própria objetificação.

Enquanto isso, as verdadeiras batalhas femininas — como a desigualdade salarial, a violência doméstica, o assédio no ambiente de trabalho, a dificuldade de conciliar maternidade com carreira e o acesso à saúde de qualidade — continuam sendo desafios reais enfrentados por milhões de mulheres no mundo todo, especialmente aquelas que não têm acesso a palco, fama ou visibilidade.

O feminismo precisa resgatar sua profundidade. Liberdade não pode significar apenas fazer o que se quer sem considerar as consequências sociais e morais dos próprios atos. Empoderar-se não é apenas expor o corpo, mas conquistar espaço intelectual, autonomia financeira, equilíbrio emocional e contribuir para uma sociedade mais justa para todos — homens e mulheres.

Mulheres como Malala Yousafzai, que defende o direito das meninas à educação, ou a iraniana Masih Alinejad, que luta contra a obrigatoriedade do uso do véu em regimes opressores, são exemplos atuais de um feminismo que continua honrando as raízes do século XIX: corajoso, sério e centrado na dignidade da mulher enquanto ser humano completo.

Não se trata de negar os avanços ou criminalizar a liberdade de expressão. Trata-se, sim, de questionar os caminhos tomados por uma narrativa que, em nome do “empoderamento”, tem promovido uma nova forma de submissão — agora disfarçada de escolha.

O corpo feminino deve ser respeitado, não explorado. A imagem da mulher deve ser elevada, não vendida. O verdadeiro empoderamento feminino deve conduzir à plenitude e não à performance vazia de sentido. Se quisermos construir um mundo mais justo e equilibrado, é hora de resgatar o verdadeiro espírito do feminismo: aquele que valoriza, educa, constrói e liberta com responsabilidade.




terça-feira, 13 de maio de 2025

A Inversão de Valores na Educação: Quando a Autoridade do Professor é Silenciada e os Pais Criam Filhos Frágeis

 


A Inversão de Valores na Educação: Quando a Autoridade do Professor é Silenciada e os Pais Criam Filhos Frágeis

Nos últimos anos, tem-se observado uma preocupante inversão de valores no campo da educação. Um exemplo recente ilustra com clareza essa tendência: um professor de uma escola municipal de Cachoeiro do Itapemirim, no Espírito Santo, foi demitido após aplicar uma medida disciplinar simples — pedir aos alunos que corressem dez voltas na quadra como consequência por não levarem a tarefa de casa. O episódio, embora aparentemente isolado, simboliza uma crise maior: a fragilização da autoridade do professor e a crescente inapetência dos pais na formação de filhos resilientes e responsáveis.

Historicamente, o professor era uma figura de respeito. Sua autoridade dentro da sala de aula não era questionada, mas reconhecida como parte essencial do processo educativo. No entanto, com o passar do tempo, a centralidade do aluno passou a se sobrepor ao papel formador do docente, criando um desequilíbrio que enfraquece tanto a estrutura escolar quanto os resultados pedagógicos. A punição simbólica — como correr na quadra ou realizar uma atividade extra — não se trata de um ato de humilhação, mas sim de uma tentativa de incutir responsabilidade, disciplina e noção de consequências.

O cerne do problema está na visão distorcida de muitos pais e responsáveis, que passaram a encarar qualquer correção como abuso, qualquer exigência como opressão e qualquer disciplina como violência. Essa postura gera crianças despreparadas para a vida adulta, incapazes de lidar com frustrações, cobranças e limites. Quando os pais não sustentam a autoridade dos professores e, pior, os atacam ou os responsabilizam pelos comportamentos dos filhos, contribuem para um ambiente escolar caótico e ineficaz.

Além disso, a superproteção parental tem criado uma geração emocionalmente frágil. São jovens que crescem acreditando que o mundo girará ao redor de suas vontades, sem aprender a lidar com o esforço, a responsabilidade e as consequências naturais de seus atos. Essa mentalidade enfraquece o tecido social e compromete o futuro da sociedade, que será conduzida por adultos imaturos, pouco resilientes e sem noção clara de dever e compromisso.

A escola, nesse cenário, deixa de ser um espaço de formação integral e se transforma em mero local de socialização, onde o aprendizado e o respeito às regras são constantemente relativizados. E o professor, antes mediador do conhecimento e referência de conduta, torna-se refém de um sistema que prioriza agradar a qualquer custo, mesmo que isso signifique sacrificar o processo educativo em sua essência.

É preciso, urgentemente, resgatar o valor da autoridade docente e promover uma cultura de responsabilidade compartilhada entre escola e família. Isso implica reconhecer que educar não é apenas oferecer afeto, mas também impor limites. Pais e professores devem caminhar juntos, em parceria, para formar cidadãos conscientes, críticos e fortes — não apenas academicamente, mas emocionalmente e moralmente.

Se essa inversão de valores continuar, estaremos fadados a colher uma sociedade cada vez mais frágil, intolerante às adversidades e incapaz de lidar com os desafios reais da vida. Revalorizar o papel do professor e promover uma educação baseada na disciplina, no respeito e na responsabilidade é, portanto, mais do que um imperativo pedagógico — é um compromisso com o futuro.



13 de Maio: Abolição, Resistência e a Persistência da Violência Contra a População Negra

 


13 de Maio: Abolição, Resistência e a Persistência da Violência Contra a População Negra

No dia 13 de maio de 1888, a assinatura da Lei Áurea pôs fim, oficialmente, à escravidão no Brasil. No entanto, a data que marca a abolição legal de um dos períodos mais brutais da história brasileira também convida à reflexão profunda: o que, de fato, foi libertado? E, principalmente, o que foi feito – ou deixado de ser feito – após a abolição?

Mais de 130 anos depois, os efeitos da escravidão permanecem vivos na estrutura social brasileira. O recém-divulgado Atlas da Violência, elaborado pelo Fórum Brasileiro de Segurança Pública e pelo Ipea, reforça uma realidade incontestável: a população negra continua sendo a principal vítima da violência no país. Em todos os indicadores – homicídios, letalidade policial, feminicídios, violência juvenil – pessoas negras aparecem em situação desproporcional.

Segundo os dados mais recentes, mais de 75% das vítimas de homicídios no Brasil são negras. Jovens negros, sobretudo homens entre 15 e 29 anos, representam a maior parcela desses números. Além disso, a violência letal praticada por agentes do Estado também tem cor: a maioria das mortes causadas por intervenção policial vitima pessoas negras e periféricas.

Esses dados não são uma coincidência. São o reflexo de um racismo estrutural que nunca foi devidamente enfrentado. A abolição da escravidão ocorreu sem políticas de reparação, inclusão ou garantia de direitos aos negros libertos. O abandono social do pós-abolição criou um ciclo contínuo de exclusão, que se reflete até hoje no acesso desigual à educação, ao mercado de trabalho, à moradia digna e à justiça.

O 13 de Maio, portanto, não pode ser apenas uma celebração. Deve ser um ato de memória, denúncia e compromisso com a transformação social. É preciso ir além do marco legal e construir uma verdadeira abolição, que passa pela valorização da vida negra, pelo combate às desigualdades raciais e pela revisão das práticas institucionais que perpetuam a violência.

Que este 13 de maio nos convoque à responsabilidade histórica de lutar por um Brasil onde a liberdade seja plena e onde a cor da pele não seja sentença de morte.

terça-feira, 22 de abril de 2025

ADEUS AO PAPA FRANCISCO!

 


Nota de Pesar pelo Falecimento do Papa Francisco

Com imenso pesar, nos unimos à dor de milhões de fiéis em todo o mundo pelo falecimento de Sua Santidade, o Papa Francisco, um líder religioso que dedicou sua vida ao serviço da fé e à promoção da paz e da justiça social, marcando a história da Igreja Católica e do mundo com sua simplicidade, humanidade e compromisso com os mais vulneráveis.

Jorge Mario Bergoglio nasceu em Buenos Aires, Argentina, em 17 de dezembro de 1936. Ordenado sacerdote em 1969, ascendeu rapidamente na hierarquia da Igreja Católica, tornando-se arcebispo de Buenos Aires em 1998 e cardeal em 2001. Em 13 de março de 2013, após a renúncia do Papa Bento XVI, foi eleito Papa, adotando o nome de Francisco, em homenagem a São Francisco de Assis. Foi o primeiro pontífice oriundo da América Latina e o primeiro jesuíta a assumir o Trono de Pedro.

Durante seu pontificado, o Papa Francisco se destacou por sua humildade, simplicidade e proximidade com os mais necessitados. Ele defendeu incansavelmente os direitos dos pobres, dos refugiados e dos marginalizados, e clamou por um mundo mais justo e fraterno. Sua mensagem de esperança e misericórdia ressoou em corações de pessoas de todas as crenças e nacionalidades.

O Papa Francisco também foi um defensor do diálogo inter-religioso e do cuidado com o meio ambiente. Sua encíclica “Laudato si”, publicada em 2015, é um chamado urgente à ação para proteger a nossa casa comum.

Neste momento de luto, expressamos nossas sinceras condolências à Igreja Católica e a todos aqueles que foram tocados pela vida e pelo ministério do Papa Francisco. Que sua memória nos inspire a construir um mundo mais justo, fraterno e solidário.

Descanse em paz, Papa Francisco. Seu legado permanecerá eterno.


sexta-feira, 11 de abril de 2025

COM QUEM QUERO FICAR?




Tempos atrás, eu estava atendendo um casal de idosos, não lembro exatamente o contexto, mas ao explicar algo para a esposa acerca de seu problema, o marido interpelou: - Viu... é o que eu sempre falo! - É... Mas eu também avisei você de tal coisa! Responde a esposa de pronto. E ficaram por um momento, os dois neste jogo de agulhadas, sem raiva alguma, com meios sorrisos aos lábios...
Perguntei, então, a quanto tempo estavam juntos? 
- Quarenta e sete anos, Doutor, se aguentando!!! Responderam juntos e caíram na gargalhada.
Ali dava pra perceber que havia amor! Não o amor-paixão da juventude, mas um amor transformado em carinho, auto-conhecimento, companheirismo e cumplicidade... um amor talhado e desbastado ao longo dos anos, pelas dificuldades do dia-a-dia e pelas alegrias do convívio em família!
Casos assim, cada vez mais raros nos dias atuais, nos fazem pensar: que pessoa quererei ao meu lado? Com quem pretendo dividir os momentos de alegria e de tristeza?
As vezes é muito difícil de "escolher" alguém com quem dividir nossa vida; principalmente em um mundo onde cada vez mais o egocentrismo, a auto-satisfação imediata e a ambição pelo sucesso fácil tornam-se regras para as gerações mais novas e levam a interpretar as relações interpessoais como "algo que faz bem para mim", contrapondo o que seria o correto: "algo que faz bem para nós"!

Imagine a situação: você chega em casa depois de um dia exaustivo. O trânsito estava caótico, o trabalho foi estressante e tudo o que você deseja é um pouco de paz. E ali, naquela sala simples, naquela cozinha onde o café tem gosto de aconchego, está alguém que te conhece nos detalhes. Alguém que talvez não diga a coisa perfeita, mas oferece um sorriso sincero, um gesto de cuidado, um silêncio acolhedor.

É nesse cenário cotidiano que se constrói o verdadeiro valor do convívio. São nesses momentos de cansaço, nos desencontros da rotina, que pequenos gestos fazem toda a diferença: um elogio despretensioso, um bilhete na geladeira, um abraço fora de hora... São essas pequenas gentilezas, cultivadas como se regássemos um jardim, que fortalecem os laços e impedem que a distância emocional se instale mesmo quando se divide o mesmo teto.

A tolerância, aqui, não é aceitar tudo calado, mas compreender que o outro, com suas imperfeições e manias, também está lutando suas próprias batalhas. O respeito mútuo floresce quando entendemos que não estamos ali para “vencer” o outro, mas para caminhar juntos. E o amor, esse amor maduro, é como um rio que se molda ao terreno, contornando pedras, absorvendo as chuvas e seguindo firme em sua direção.

Em tempos onde tudo é descartável, inclusive relações, vale lembrar que vínculos duradouros não se constroem apenas com promessas ou afinidades momentâneas. Eles exigem trabalho, paciência, presença. Exigem, sobretudo, o compromisso com o bem-estar mútuo, com a construção de um “nós” que sobreviva aos ventos e às tempestades da vida.

E, no final das contas, é isso que todos buscamos: alguém com quem dividir não só a cama, mas os silêncios, as dores, os sonhos e as conquistas. Alguém que esteja ali, ao seu lado, rindo com você dos pequenos desentendimentos do dia, depois de quarenta e sete anos... se aguentando – e se amando.

Obs.: Eu comecei a escrever este texto em 17/12/2020... só terminei hoje. Infelizmente, a minha paciente faleceu ano passado. Mas a cumplicidade e o carinho entre o casal perdurou até seus últimos momentos.


A CRISE DE VALORES MORAIS DA SOCIEDADE CONTEMPORÂNEA


 

A Crise de Valores Morais da Sociedade Contemporânea

Vivemos em uma era marcada por avanços tecnológicos, democratização do acesso à informação e conquistas individuais sem precedentes. Paradoxalmente, esse progresso coexistente com a crescente sensação de vazio existencial, desorientação ética e dissolução de princípios fundamentais aponta para uma crise profunda: a crise de valores morais da sociedade contemporânea.

A modernidade, ao priorizar a liberdade individual e o direito à autoexpressão, acabou por abrir espaço para a valorização excessiva do “eu” em detrimento do “nós”. A satisfação imediata dos desejos pessoais tornou-se prioridade, promovendo uma cultura do instantâneo, do consumo emocional e da superficialidade das relações humanas. O que antes era norteado por um senso de dever coletivo e responsabilidade social, hoje é frequentemente substituído por interesses pessoais efêmeros e, muitas vezes, egoístas.

Essa inversão de valores é visível em diversas esferas. A solidariedade, outrora tida como virtude, cede lugar à competitividade desenfreada. A empatia é substituída pelo julgamento apressado nas redes sociais. A convivência comunitária, construída com base no diálogo e na tolerância, é minada pela intolerância ideológica, onde o outro é visto como inimigo e não como interlocutor.

Outro ponto que merece reflexão é a crescente preocupação com os direitos dos animais, frequentemente exaltada em detrimento das urgências humanas. Embora seja legítima e necessária a defesa do bem-estar animal, é preocupante quando essa pauta é tratada com mais vigor do que questões humanas básicas, como a fome, a miséria, a violência ou a exclusão social. A sensibilidade seletiva, onde um cão abandonado comove mais que uma criança sem abrigo, evidencia um desequilíbrio ético.

Essa crise moral também está atrelada à fragilidade das instituições formadoras de caráter — família, escola, religião —, que perderam força ou legitimidade frente a uma sociedade que rejeita limites e tradições. A autoridade é questionada, não para ser compreendida e aprimorada, mas para ser descartada. A liberdade, valor essencial, é confundida com ausência de responsabilidade, e os direitos, embora importantes, são frequentemente desvinculados dos deveres.

Não se trata de um apelo ao retorno a um passado idealizado, mas sim de um chamado à reflexão e reconstrução de uma ética que integre o indivíduo ao coletivo, que reconheça a importância da realização pessoal, mas sem ignorar o bem comum. A superação dessa crise passa pela valorização de princípios universais como a justiça, a compaixão, a honestidade e o respeito mútuo.

A sociedade contemporânea precisa resgatar o sentido do humano em sua plenitude. Isso implica reconhecer que o progresso material e tecnológico só será verdadeiro se estiver aliado ao progresso moral. Caso contrário, avançaremos no conhecimento, mas regrediremos na sabedoria — e uma sociedade que conhece muito, mas compreende pouco, está fadada ao colapso ético.

OS DIREITOS HUMANOS NO MUNDO ATRAVÉS DOS TEMPOS


 OS DIREITOS HUMANOS NO MUNDO ATRAVÉS DOS TEMPOS 
Introdução 
Os direitos humanos consistem em um conjunto de princípios e garantias fundamentais que buscam proteger a dignidade e a liberdade de cada ser humano. Eles têm como objetivo assegurar a dignidade e a igualdade de todos, independentemente de raça, religião, nacionalidade, gênero ou orientação sexual. Ao longo da história, esses direitos evoluíram e se transformaram em resposta às necessidades sociais, políticas e econômicas de cada época. Desde as primeiras civilizações até os dias atuais, é possível observar uma evolução nas concepções de direitos humanos, que passaram de privilégios restritos a certas classes para se tornarem valores universais. Esta dissertação tem como propósito traçar um panorama histórico dos direitos humanos, analisando suas origens, evolução e desafios contemporâneos. Serão abordados momentos cruciais da história, como o Código de Hamurabi, a Magna Carta, a Declaração de Independência dos Estados Unidos, a Declaração Universal dos Direitos Humanos e os desafios do século XXI. Também será ressaltada a importância do feminismo na luta pelos direitos humanos, assim como a participação da Maçonaria, destacando a atuação de George Martin, Maria Deraismes e a Ordem Maçônica Mista Internacional Le Droit Humain. 

1. Os Primórdios dos Direitos Humanos 
Os primeiros registros de normas que buscavam garantir a justiça e a equidade social datam das antigas civilizações, como a Mesopotâmia, o Egito e a Grécia. O Código de Hamurabi, criado na Babilônia por volta de 1770 a.C., é um dos primeiros conjuntos de leis escritas da história. Embora se baseasse no princípio da retaliação (“lei de talião”), estabelecia regras para proteger os cidadãos, garantindo punições para infratores e direitos específicos para determinados grupos sociais. Um marco significativo foi a Carta de Ciro, redigida pelo rei persa Ciro, o Grande, no século VI a.C. (ano de 539). Este documento, frequentemente visto como uma das primeiras declarações de direitos humanos, assegurava a liberdade religiosa, a igualdade racial e a abolição da escravidão para os povos conquistados pelos persas. Esses e outros decretos foram registrados em um cilindro de argila, na língua acádica, utilizando a escrita cuneiforme. Na Grécia Antiga, as ideias democráticas de cidadania e participação política começaram a emergir. Contudo, esses direitos eram limitados aos cidadãos homens e livres, excluindo mulheres, estrangeiros e escravos. No Império Romano, o conceito de “jus gentium” (direito dos povos) buscava regular as relações entre os diversos povos do império, estabelecendo uma noção inicial de direitos universais.

2. A Idade Média e os Primeiros Avanços
Durante a Idade Média, o feudalismo restringiu os direitos individuais, concentrando o poder nas mãos da nobreza e do clero. No entanto, alguns avanços significativos ocorreram. A Magna Carta (1215), assinada pelo rei João Sem Terra da Inglaterra, foi um marco ao impor limites ao poder monárquico e garantir direitos a nobres e barões. Embora ainda restrita a um pequeno grupo, a Magna Carta inspirou futuros documentos sobre liberdades civis. No final da Idade Média, as ideias renascentistas e humanistas começaram a desafiar o absolutismo e a promover a dignidade humana como um valor fundamental.

3. O Iluminismo e a Expansão dos Direitos Humanos
O Renascimento e o Iluminismo foram períodos de intensa transformação intelectual e social. O século XVIII foi crucial para o desenvolvimento dos direitos humanos. O Iluminismo trouxe uma perspectiva racional e progressista sobre a sociedade, questionando a autoridade monárquica e defendendo direitos fundamentais como liberdade, igualdade e propriedade. A Declaração de Independência dos Estados Unidos (1776) e a Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão (1789), na França, estabeleceram princípios fundamentais como o direito à liberdade de expressão, à segurança e à resistência à opressão. Esses documentos foram essenciais para a consolidação dos direitos humanos nas instituições políticas modernas.

4. O Feminismo e a Luta pelos Direitos Humanos
O feminismo teve um papel vital na ampliação dos direitos humanos, especialmente na busca por igualdade de gênero e acesso a direitos básicos. Movimentos feministas dos séculos XIX e XX lutaram pelo direito ao voto, à educação e a condições de trabalho justas para as mulheres. Personalidades como Maria Deraismes e George Martin foram fundamentais nesse processo, promovendo a inclusão das mulheres na Maçonaria e fundando a Ordem Maçônica Mista Internacional Le Droit Humain, que defendia a igualdade entre homens e mulheres. A maçonaria, uma organização fraterna e filosófica, tem sido importante na defesa dos direitos humanos, servindo como um espaço para debate e reflexão sobre o tema, além de contribuir para a formação de líderes comprometidos com a dignidade humana.

5. Século XX
O século XX foi marcado por duas guerras mundiais devastadoras, que destacaram a necessidade de proteger os direitos humanos em uma escala global. Em 1948, a Organização das Nações Unidas (ONU) adotou a Declaração Universal dos Direitos Humanos, um marco crucial na história dos direitos humanos. Este documento definiu os direitos civis, políticos, econômicos, sociais e culturais que todos os seres humanos devem ter.

6. Os Desafios Contemporâneos
Apesar dos avanços, os direitos humanos ainda enfrentam desafios no século XXI. Questões como racismo sistêmico, desigualdades econômicas, mudanças climáticas, a crise dos refugiados e a ascensão de governos autoritários ameaçam as conquistas que foram alcançadas. O futuro dos direitos humanos está intrinsicamente ligado ao engajamento de todos os setores da sociedade, incluindo governos, organizações internacionais, a sociedade civil e os indivíduos, na promoção de uma cultura que respeite esses direitos. É fundamental investir em educação, conscientização e em mecanismos de proteção para assegurar que os direitos humanos sejam uma realidade acessível a todos, em qualquer lugar. No entanto, como a história já nos ensinou, além da boa vontade dos governantes, é essencial a mobilização popular, especialmente das minorias sociais, para conquistar e solidificar esses direitos. A educação é a base para formar uma sociedade consciente e ativa na defesa dos direitos humanos. Para isso, é necessário que as escolas incluam a discussão do tema em seus currículos, ensinando sobre igualdade, dignidade humana, democracia e justiça social desde o ensino fundamental. Os educadores e funcionários, principalmente do setor público, devem receber capacitação sobre direitos humanos para que possam atuar como multiplicadores desse conhecimento. Ainda, campanhas de conscientização sobre direitos humanos devem ser amplamente divulgadas para envolver toda a sociedade. Também seria necessário incentivar e financiar iniciativas de educação popular que empoderem as comunidades marginalizadas. A legislação precisa ser constantemente aprimorada para garantir que os direitos humanos sejam aplicados de maneira justa e equitativa. As ações incluem a criação e fortalecimento de leis de proteção aos vulneráveis, a instauração de órgãos independentes que supervisionem e assegurem a efetiva implementação dos direitos humanos, o estabelecimento de canais que permitam a participação cidadã na elaboração de leis e políticas que atendam às necessidades das comunidades, além do desenvolvimento de mecanismos que tornem mais fácil o acesso gratuito à assistência jurídica para grupos vulneráveis. Não podemos ignorar que a desigualdade econômica representa um dos maiores desafios para a plena realização dos direitos humanos. Algumas medidas para combatê-la incluem assegurar que famílias em situação de pobreza tenham um mínimo para sua sobrevivência, implementar programas de formação profissional voltados para populações vulneráveis, garantir igualdade salarial e oportunidades para mulheres e minorias, além de criar linhas de crédito específicas para estimular o empreendedorismo em comunidades carentes. Muitas dessas medidas já passam por planos de governo, tanto no Brasil como em alguns outros países, contudo, ainda precisam ser aprimoradas e ampliadas. A sociedade civil desempenha um papel crucial na promoção dos direitos humanos. Fomentar a formação de redes que ofereçam suporte a comunidades vulneráveis, colaborar para ampliar o impacto das ações sociais e estabelecer mecanismos de proteção para ativistas e líderes comunitários que trabalham na defesa dos direitos humanos, são medidas de suma importância, haja vista que, como já mencionado, as conquistas, na maioria das vezes, ocorrem por desejo popular e não por motivação altruísta dos governos constituídos. E, em pleno século XXI, a tecnologia pode ser uma grande aliada na defesa dos direitos humanos. Criar aplicativos e sites que permitam que as pessoas denunciem abusos de forma segura e anônima, oferecer cursos online gratuitos sobre direitos humanos e capacitação profissional e implementar sistemas que identifiquem padrões de violação de direitos em redes sociais e na mídia seriam algumas das possibilidades a serem exploradas. 

Conclusão
A trajetória dos direitos humanos é repleta de avanços e retrocessos, mas sempre com uma tendência crescente em direção à ampliação das liberdades individuais. O feminismo e a Maçonaria tiveram papéis cruciais nesse processo, ajudando a estabelecer princípios fundamentais de igualdade e justiça. A evolução dos direitos humanos exige um esforço coletivo, que envolve educação, fortalecimento da legislação, inclusão econômica, engajamento da sociedade civil e uso estratégico da tecnologia. Somente por meio da colaboração entre governos, organizações internacionais, sociedade civil e indivíduos comprometidos poderemos garantir um futuro mais justo e igualitário para todos, especialmente para as classes menos favorecidas no Brasil e no mundo. A implementação dessas ações requer comprometimento e fiscalização contínua, pois só assim poderemos assegurar que os direitos humanos se tornem realidade para todas as pessoas, independentemente de sua condição social, gênero ou origem.

quinta-feira, 10 de abril de 2025

Quinta-feira de Endoenças: Um Chamado à Purificação Espiritual na Tradição Rosa-Cruz






Na tradição cristã, a Quinta-feira que antecede a Páscoa é conhecida como Quinta-feira Santa, marcada pela Última Ceia, o gesto humilde do lava-pés e a instituição da Eucaristia. No entanto, dentro do universo simbólico da Maçonaria, especialmente no âmbito dos Cavaleiros Rosa-Cruz (grau 18 do Rito Escocês Antigo e Aceito), esta mesma data recebe o nome de Quinta-feira de Endoenças – um momento sagrado, reservado à introspecção, à regeneração e ao reencontro com os princípios mais elevados do espírito humano.

Origem e Significado da “Endoença”
A palavra “endoença” tem origem no latim indulgentia, remetendo ao ato de perdoar, relevar, conceder graça. Durante a Idade Média, a Igreja concedia indulgências especiais neste dia, reforçando seu caráter penitencial e preparatório. Para o esoterismo ocidental, contudo, a ideia vai além do perdão externo: ela se transforma em um ato interno de reconciliação consigo mesmo, um processo de cura da alma.
Como disse Paulo de Tarso, o “São Paulo Apóstolo”: “Não esqueça que o verdadeiro perdão se reconhece pelos atos, muito mais que pelas palavras.”

O Cristo Simbólico e a Tradição Rosa-Cruz
No grau Rosa-Cruz, o Cristo não é apenas figura histórica, mas um símbolo universal do homem regenerado – aquele que morre para o ego e renasce para a luz. A Paixão e a Ressurreição tornam-se, portanto, arquétipos da jornada iniciática que cada maçom está destinado a trilhar. A Quinta-feira de Endoenças é o ponto de virada, o limiar entre a vida profana e a busca pela plenitude espiritual.
Como ensina o próprio ritual do grau 18: “Na cruz termina o sofrimento do homem velho, e dela nasce o homem novo, iluminado pela chama do amor universal.”

A Cerimônia Maçônica da Endoença
Embora não haja um ritual padronizado e universal para a Quinta-feira de Endoenças, muitas Lojas Rosa-Cruz realizam encontros simbólicos ou reflexivos nessa data. Alguns utilizam velas, taças de vinho, pão e passagens bíblicas ou esotéricas, como o Evangelho de João ou trechos do Corpus Hermeticum, para conduzir momentos de meditação silenciosa e comunhão espiritual.
O silêncio, nesse contexto, não é ausência de som, mas presença do sagrado. É nesse recolhimento que cada Cavaleiro é convidado a perguntar-se: “Quais sombras ainda preciso transmutar? Que luz ainda deixo escondida dentro de mim?”

Fraternidade, Perdão e Renascimento
A Quinta-feira de Endoenças também é um chamado à prática da verdadeira fraternidade, que vai além do aperto de mãos e do avental: trata-se de cultivar o perdão mútuo, a escuta compassiva e a aceitação sincera do outro como reflexo do Divino.
O autor Paulo Coelho, em sua obra O Alquimista, resume bem esse ideal: “Não basta estudar o amor universal; é preciso vivê-lo a cada dia, como um alquimista que transforma o chumbo da ignorância em ouro de sabedoria.”

Um Tempo Sagrado no Caminho Iniciático
Celebrar a Quinta-feira de Endoenças é recordar que a verdadeira iniciação é interior, e que a maçonaria, em seus graus mais elevados, é uma escola de autoconhecimento, onde símbolos, mitos e rituais são ferramentas para despertar o que há de divino em cada ser humano.
Assim, neste dia especial, cada Rosa-Cruz é chamado a deixar o mundo exterior em silêncio e voltar-se para o templo do coração. A verdadeira iniciação começa quando cessam as palavras e nasce a luz do silêncio.

Conclusão
Que a Quinta-feira de Endoenças seja, para todos os Irmãos e Irmãs que percorrem o caminho iniciático, um tempo de reconciliação, reconsagração e renascimento interior. Que possamos, como Cavaleiros Rosa-Cruz, renovar nossos votos de servir à Luz, à Verdade e ao Amor, não apenas com palavras, mas com ações que edifiquem o mundo à nossa volta.
Paz Profunda e Fraternais Saudações!

quinta-feira, 8 de julho de 2021

Tem Sentido a Maçonaria no Século XXI?




Diego de Almeida (Colombo-PR, março/2021)

Ao nos depararmos com o questionamento se tem sentido a maçonaria no Século XXI, talvez, a primeira resposta que nos chegaria à mente seria que não. Por que haveria sentido em se manter uma instituição com mais de 300 anos ainda ativa em plena era da tecnologia e da ciência?
De fato, estamos em uma época privilegiada, com avanços tecnológicos inimagináveis meio século atrás. Em todas as áreas, o ser humano evoluiu, quebrou fronteiras e avançou além do que ele próprio achava ser possível, uma ou duas gerações passadas. O conhecimento tornou-se acessível ao toque do dedo em uma pequena tela, em nossas próprias mãos. Nunca antes, a informação circulou de maneira tão rápida e eclética, atingindo os mais variados extratos sociais (e a desinformação, também!).
Entrementes, livre acesso ao conhecimento e à informação, não bastam! Ler compêndios de medicina não tornam o indivíduo um médico, bem como, estudar as leis, não o capacitam a ser advogado. A informação pura e o conhecimento livre, sem regras ou ordenação, são inócuos, senão até perigosos.
Em meados do Século XVII, as associações de construtores – primórdios da maçonaria que hoje conhecemos – eram grupos fechados, cujo acesso era reservado a membros. Porém, a ciência de talhar pedras e construir com elas, estava se tornando obsoleta e os “pedreiros / canteiros de ofício” quase não existiam. Seus filhos, herdeiros do conhecimento, davam continuidade a antigos usos e costumes relacionados com a profissão, transmitindo oralmente aos novos membros, corroborando para manter o que já fora um segredo, mas, depois, ficou com aura de mistério. Neste contexto, pensadores e filósofos, que necessitavam de um local seguro e discreto para suas discussões, passaram a ser aceitos como membros das lojas maçônicas operativas. A estes não interessava perturbar o que já existia, sendo que os antigos usos se mantiveram. Porém, ao introduzir o debate filosófico e científico, os novos membros levaram os antigos grêmios a um rumo totalmente distinto e, aos poucos, as ligações ao trabalho da pedra tornaram-se apenas referências simbólicas, e o plano das ideias tornou-se o real trabalho.
Logo, a maçonaria, para não deixar de existir, transmutou-se de operativa a especulativa. Não porque ela, a maçonaria, fosse uma entidade autonômica, extracorpórea e pensante e assim o desejasse, mas, porque os homens que a compunham, julgaram necessário e de tal modo agiram.
Mais de três séculos passados, a maçonaria encontra-se em nova encruzilhada: fechar-se em seus antigos usos e costumes, arriscando perder-se na noite do tempo e cair no completo ostracismo; ou abrir-se às novas tecnologias e correr risco de perder sua essência e características próprias?
Talvez a resposta não esteja nem em um lado, nem em outro...
O que faz a maçonaria ser o que é, justamente, é a luta incessante pela tolerância e a investigação da verdade. Desta forma, investigar a verdade é admitir que algo que nos é verídico hoje, possa ser incorreto, estando o indivíduo pronto para mudar a sua forma de pensar e aceitar o novo. A aceitação do que nos é estranho e diverso faz com que a maçonaria seja uma escola filosófica progressista, permitindo, se não exigindo, a mudança quando a mesma é requerida.
Estar presa a “regras pétreas e imutáveis” é um contrassenso absurdo quando pensamos em uma organização que promete tirar a venda da ignorância dos olhos dos meus membros, inundando-os com a luz do conhecimento e da verdade.
O mundo ainda é um lugar de ignorância e intolerância, seja política, religiosa, moral ou o que for. A maçonaria especulativa sempre lutou pela Igualdade, Liberdade e Fraternidade, espalhando as sementes da mudança e do melhoramento àqueles que foram e são inconformados com as injustiças e almejaram um futuro, ainda que utópico, em que todos pudessem ser como irmãos. Cada um dando seu contributo para a construção de uma sociedade justa e perfeita, baseada na tolerância e no respeito mútuo. Essa ideia é tão pertinente hoje como três séculos passados.
Da mesma forma, outros propósitos da maçonaria ainda são muito relevantes, principalmente em se tratando de tempos contemporâneos e de uma sociedade tecnológica. Avaliemos:
Os padrões de moralidade exigidos de seus adeptos devem ser bastante elevados. Ao menos, deveriam ser. O lema “Tornar homens bons em homens melhores” é uma grande verdade e dever da Ordem. O cumprimento das leis dos países em que está implantada, bem como o dos deveres cívicos, familiares, laborais e religiosos, são algo que se espera e se exige de qualquer maçom.
O amor fraternal é nutrido e estimulado entre os maçons. As sessões são semelhantes nas mais diversas partes do mundo, fazendo que o maçom transcenda barreiras sociais, econômicas, raciais, religiosas e políticas, comungando com as mais diversas pessoas que, de outro modo, jamais teria qualquer outra ligação, mas, que na maçonaria, passaram a ser irmãos.
A Loja é um reflexo reduzido da sociedade, em toda sua diversidade e complexidade. Cada um dos membros é estimulado a desenvolver tarefas e funções, arcando com responsabilidades que, talvez, não fosse a maçonaria, não teria a oportunidade de vivenciar. Estas situações ajudam a construir e promover a autoconfiança e a desenvolver o raciocínio e o intelecto.
“Todo bem que se guarda, é bem que se perde.” Assim, todo maçom é estimulado a praticar a caridade, individual ou coletivamente. A maçonaria procura, sim, desenvolver o indivíduo, moral e intelectualmente. Mas, de nada serviria isto, se o mesmo não viesse a ser agente de mudança social e amparo aos menos favorecidos.
A Loja é um ambiente de tolerância, confiança e concórdia, onde os membros podem deixar as amarguras e dificuldades do mundo profano para fora dos umbrais do templo e recarregar suas energias na egrégora salutar que se forma durante a sessão. É local de paz e libertação, tão necessário, tão peculiar e tão difícil de encontrar em outro lugar.
De todo modo, a maçonaria congrega Homens livres e de bons costumes. O que é o Homem livre, senão aquele dotado de livre arbítrio, que pode ir e vir, e decidir qual caminho trilhar? Este indivíduo, homem ou mulher, novo ou velho, tem a possibilidade de colher aquela informação (aquela, tão fácil de acessar nos dias de hoje), que seria inútil ao tolo, e transformá-la em conhecimento útil, agente de mudança e melhoramento, para si próprio e para a sociedade em que vive. Então, se os indivíduos mudam, se a tecnologia se aprimora e se as sociedades se desenvolvem, a maçonaria também pode e deve se atualizar; sem perder a essência, sem deixar de ser maçonaria, mas, abrindo os braços às verdades que ela sempre prometeu investigar; ontem, hoje e sempre.

sábado, 12 de dezembro de 2020

EM QUANTO TEMPO SE ATINGE O GRAU MÁXIMO DA MAÇONARIA?

 


Eis aí uma ótima pergunta... A resposta pode não ser tão simples assim. Alguns anos, algumas décadas, a vida inteira, nunca...
Na verdade, este tempo depende de vários fatores, alguns por parte da Potência ou Loja, outros, do Obreiro (o maçom iniciado). Depende muito também do Rito que se está praticando, pois, cada Rito tem um número distinto de Graus. No caso em tela, vamos considerar o Rito Escocês Antigo e Aceito – REAA – que é o que praticamos em nossa Potência e é um dos mais conhecidos e praticados no mundo. Então, no caso do REAA, são 33 Graus.
Não vamos considerar a quebra de interstício, que é um recurso que existe e pode ser usado para que o Maçom, por assim dizer, pule um ou mais Graus, avançando os degraus e assumindo um Grau superior “de fato”, mas não “de direito”, haja vista que não tem o conhecimento pertinente aos Graus que “pulou” e terá que os estudar posteriormente. As quebras de interstício ocorrem geralmente por necessidades administrativas particulares e devem ser evitadas ao máximo!
Vamos admitir uma Potência “Xis”, que seja muito voltada aos antigos Usos e Costumes da Maçonaria Universal e que preze pela boa formação de seus Obreiros, que infelizmente não é a realidade de muitas Potências brasileiras e estrangeiras, e também vamos considerar que o maçom é assíduo em seus estudos e participa de todas as sessões de seu grau. Deste modo, os Graus iniciais, chamados Simbólicos, não se cumprem com menos de um ano de intervalo entre eles; então, contabilizando, um ano para o Aprendiz passar a Companheiro e mais um ano para este ir a Mestre...
Os Graus Filosóficos do REAA são adquiridos de duas formas; por Iniciação – com uma cerimônia própria para tal – ou por Comunicação – sem necessidade de cerimonial próprio, devendo, contudo, ser estudados, para serem testados antes da próxima Iniciação.
Após ter completado seis meses de Mestre Maçom, o candidato aos Altos Graus do REAA, tem 12 Graus Iniciáticos, devendo respeitar os interstícios entre eles. Os Graus 4, 9, 14, 15, 18, 19, 22, 28, 30, 31, 32 e 33 são Iniciáticos. Os demais entre eles são colados por Comunicação.
Veja a tabela abaixo sobre os interstícios exigidos:

GRAU 4, 9, 14, 15, 18,19
6 MESES ENTRE CADA GRAU INICIÁTICO
GRAU 19, 22, 28, 30
4 MESES ENTRE CADA GRAU INICIÁTICO
GRAU 30 ao 31
6 MESES
GRAU 31 ao 32
3 MESES
GRAU 32 ao 33
12 MESES

Tudo isso é interstício mínimo, podendo levar muito mais tempo para se passar de um Grau a outro!
Desta forma, basta fazermos as contas e vamos encontrar um valor “mágico”: 99 meses!!! Isto corresponde a 8 anos e 3 meses.

Logo, em condições ideais, em pouco mais de 8 anos um Maçom pode ir do Grau 1 ao 33, no REAA. Mas, isso é apenas teórico. Na realidade, no dia-a-dia partindo pedra, as coisas podem não andar bem assim... Mas o que vale não é colar Graus, mas sim, adquirir conhecimento e aprimoramento moral! Esta é a verdadeira busca da Maçonaria: A constante e incansável busca da Verdade!

Por Ir.'. Diego de Almeida 33.'.