Ética não é um conjunto de frases bonitas; é um modo de habitar o cotidiano. Ela se revela nos pequenos gestos: no “bom dia” sincero, no compromisso cumprido, na pontualidade que respeita o tempo do outro, na coragem de admitir um erro sem rodeios. Palavras inspiram, esclarecem, orientam — mas, sozinhas, não sustentam a confiança. O que realmente educa é o exemplo.
No convívio diário, a coerência entre discurso e conduta é o cimento das relações. Quando alguém exige correção, mas se permite atalhos; quando defende respeito, mas trata com desatenção; quando cobra transparência, mas oculta informações, instala-se uma fratura de credibilidade. A incoerência não apenas contradiz a mensagem; ela silencia a mensagem. Nada torna uma orientação mais inócua do que o contraexemplo de quem a enuncia.
Se queremos ambientes mais justos — em casa, no trabalho, na rua — precisamos alinhar valores e práticas. É simples de dizer e exigente de fazer. Significa prometer menos e cumprir mais; reconhecer publicamente os deslizes e repará-los; dar crédito a quem merece; não usar a urgência como desculpa para a falta de educação; ser firme no princípio e humano na forma. Significa, sobretudo, compreender que autoridade moral não se decreta: conquista-se.
Há uma pedagogia silenciosa no comportamento. Pais e mães, professores, profissionais de saúde, líderes de equipe: todos ensinam também quando não estão falando. Ensina-se ao desligar o celular na consulta, ao ouvir sem interromper, ao tratar igualmente quem pode “ajudar” e quem não pode. Ensina-se nas decisões difíceis, quando ninguém está olhando — porque, no fundo, sempre estamos nos olhando. A ética é também auto-respeito.
Palavras têm peso: abrem caminhos, dão norte, convocam. Porém, os exemplos pavimentam esses caminhos. O discurso inaugura; a prática consolida. Por isso, antes de formular a próxima regra, convém perguntar: “Eu vivo o que proponho?” O convite ético que transforma não soa como ordem distante, mas como um chamado compartilhado: venha comigo, eu vou junto.
Que o nosso cotidiano fale a mesma língua do que defendemos. Que as frases encontrem abrigo nos hábitos. E que a orientação final, livre de ironia e cheia de coragem, seja possível entre nós: “Faça o que eu falo, Faça o que eu faço!”
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