quinta-feira, 8 de julho de 2021

Tem Sentido a Maçonaria no Século XXI?




Diego de Almeida (Colombo-PR, março/2021)

Ao nos depararmos com o questionamento se tem sentido a maçonaria no Século XXI, talvez, a primeira resposta que nos chegaria à mente seria que não. Por que haveria sentido em se manter uma instituição com mais de 300 anos ainda ativa em plena era da tecnologia e da ciência?
De fato, estamos em uma época privilegiada, com avanços tecnológicos inimagináveis meio século atrás. Em todas as áreas, o ser humano evoluiu, quebrou fronteiras e avançou além do que ele próprio achava ser possível, uma ou duas gerações passadas. O conhecimento tornou-se acessível ao toque do dedo em uma pequena tela, em nossas próprias mãos. Nunca antes, a informação circulou de maneira tão rápida e eclética, atingindo os mais variados extratos sociais (e a desinformação, também!).
Entrementes, livre acesso ao conhecimento e à informação, não bastam! Ler compêndios de medicina não tornam o indivíduo um médico, bem como, estudar as leis, não o capacitam a ser advogado. A informação pura e o conhecimento livre, sem regras ou ordenação, são inócuos, senão até perigosos.
Em meados do Século XVII, as associações de construtores – primórdios da maçonaria que hoje conhecemos – eram grupos fechados, cujo acesso era reservado a membros. Porém, a ciência de talhar pedras e construir com elas, estava se tornando obsoleta e os “pedreiros / canteiros de ofício” quase não existiam. Seus filhos, herdeiros do conhecimento, davam continuidade a antigos usos e costumes relacionados com a profissão, transmitindo oralmente aos novos membros, corroborando para manter o que já fora um segredo, mas, depois, ficou com aura de mistério. Neste contexto, pensadores e filósofos, que necessitavam de um local seguro e discreto para suas discussões, passaram a ser aceitos como membros das lojas maçônicas operativas. A estes não interessava perturbar o que já existia, sendo que os antigos usos se mantiveram. Porém, ao introduzir o debate filosófico e científico, os novos membros levaram os antigos grêmios a um rumo totalmente distinto e, aos poucos, as ligações ao trabalho da pedra tornaram-se apenas referências simbólicas, e o plano das ideias tornou-se o real trabalho.
Logo, a maçonaria, para não deixar de existir, transmutou-se de operativa a especulativa. Não porque ela, a maçonaria, fosse uma entidade autonômica, extracorpórea e pensante e assim o desejasse, mas, porque os homens que a compunham, julgaram necessário e de tal modo agiram.
Mais de três séculos passados, a maçonaria encontra-se em nova encruzilhada: fechar-se em seus antigos usos e costumes, arriscando perder-se na noite do tempo e cair no completo ostracismo; ou abrir-se às novas tecnologias e correr risco de perder sua essência e características próprias?
Talvez a resposta não esteja nem em um lado, nem em outro...
O que faz a maçonaria ser o que é, justamente, é a luta incessante pela tolerância e a investigação da verdade. Desta forma, investigar a verdade é admitir que algo que nos é verídico hoje, possa ser incorreto, estando o indivíduo pronto para mudar a sua forma de pensar e aceitar o novo. A aceitação do que nos é estranho e diverso faz com que a maçonaria seja uma escola filosófica progressista, permitindo, se não exigindo, a mudança quando a mesma é requerida.
Estar presa a “regras pétreas e imutáveis” é um contrassenso absurdo quando pensamos em uma organização que promete tirar a venda da ignorância dos olhos dos meus membros, inundando-os com a luz do conhecimento e da verdade.
O mundo ainda é um lugar de ignorância e intolerância, seja política, religiosa, moral ou o que for. A maçonaria especulativa sempre lutou pela Igualdade, Liberdade e Fraternidade, espalhando as sementes da mudança e do melhoramento àqueles que foram e são inconformados com as injustiças e almejaram um futuro, ainda que utópico, em que todos pudessem ser como irmãos. Cada um dando seu contributo para a construção de uma sociedade justa e perfeita, baseada na tolerância e no respeito mútuo. Essa ideia é tão pertinente hoje como três séculos passados.
Da mesma forma, outros propósitos da maçonaria ainda são muito relevantes, principalmente em se tratando de tempos contemporâneos e de uma sociedade tecnológica. Avaliemos:
Os padrões de moralidade exigidos de seus adeptos devem ser bastante elevados. Ao menos, deveriam ser. O lema “Tornar homens bons em homens melhores” é uma grande verdade e dever da Ordem. O cumprimento das leis dos países em que está implantada, bem como o dos deveres cívicos, familiares, laborais e religiosos, são algo que se espera e se exige de qualquer maçom.
O amor fraternal é nutrido e estimulado entre os maçons. As sessões são semelhantes nas mais diversas partes do mundo, fazendo que o maçom transcenda barreiras sociais, econômicas, raciais, religiosas e políticas, comungando com as mais diversas pessoas que, de outro modo, jamais teria qualquer outra ligação, mas, que na maçonaria, passaram a ser irmãos.
A Loja é um reflexo reduzido da sociedade, em toda sua diversidade e complexidade. Cada um dos membros é estimulado a desenvolver tarefas e funções, arcando com responsabilidades que, talvez, não fosse a maçonaria, não teria a oportunidade de vivenciar. Estas situações ajudam a construir e promover a autoconfiança e a desenvolver o raciocínio e o intelecto.
“Todo bem que se guarda, é bem que se perde.” Assim, todo maçom é estimulado a praticar a caridade, individual ou coletivamente. A maçonaria procura, sim, desenvolver o indivíduo, moral e intelectualmente. Mas, de nada serviria isto, se o mesmo não viesse a ser agente de mudança social e amparo aos menos favorecidos.
A Loja é um ambiente de tolerância, confiança e concórdia, onde os membros podem deixar as amarguras e dificuldades do mundo profano para fora dos umbrais do templo e recarregar suas energias na egrégora salutar que se forma durante a sessão. É local de paz e libertação, tão necessário, tão peculiar e tão difícil de encontrar em outro lugar.
De todo modo, a maçonaria congrega Homens livres e de bons costumes. O que é o Homem livre, senão aquele dotado de livre arbítrio, que pode ir e vir, e decidir qual caminho trilhar? Este indivíduo, homem ou mulher, novo ou velho, tem a possibilidade de colher aquela informação (aquela, tão fácil de acessar nos dias de hoje), que seria inútil ao tolo, e transformá-la em conhecimento útil, agente de mudança e melhoramento, para si próprio e para a sociedade em que vive. Então, se os indivíduos mudam, se a tecnologia se aprimora e se as sociedades se desenvolvem, a maçonaria também pode e deve se atualizar; sem perder a essência, sem deixar de ser maçonaria, mas, abrindo os braços às verdades que ela sempre prometeu investigar; ontem, hoje e sempre.

sábado, 12 de dezembro de 2020

EM QUANTO TEMPO SE ATINGE O GRAU MÁXIMO DA MAÇONARIA?

 


Eis aí uma ótima pergunta... A resposta pode não ser tão simples assim. Alguns anos, algumas décadas, a vida inteira, nunca...
Na verdade, este tempo depende de vários fatores, alguns por parte da Potência ou Loja, outros, do Obreiro (o maçom iniciado). Depende muito também do Rito que se está praticando, pois, cada Rito tem um número distinto de Graus. No caso em tela, vamos considerar o Rito Escocês Antigo e Aceito – REAA – que é o que praticamos em nossa Potência e é um dos mais conhecidos e praticados no mundo. Então, no caso do REAA, são 33 Graus.
Não vamos considerar a quebra de interstício, que é um recurso que existe e pode ser usado para que o Maçom, por assim dizer, pule um ou mais Graus, avançando os degraus e assumindo um Grau superior “de fato”, mas não “de direito”, haja vista que não tem o conhecimento pertinente aos Graus que “pulou” e terá que os estudar posteriormente. As quebras de interstício ocorrem geralmente por necessidades administrativas particulares e devem ser evitadas ao máximo!
Vamos admitir uma Potência “Xis”, que seja muito voltada aos antigos Usos e Costumes da Maçonaria Universal e que preze pela boa formação de seus Obreiros, que infelizmente não é a realidade de muitas Potências brasileiras e estrangeiras, e também vamos considerar que o maçom é assíduo em seus estudos e participa de todas as sessões de seu grau. Deste modo, os Graus iniciais, chamados Simbólicos, não se cumprem com menos de um ano de intervalo entre eles; então, contabilizando, um ano para o Aprendiz passar a Companheiro e mais um ano para este ir a Mestre...
Os Graus Filosóficos do REAA são adquiridos de duas formas; por Iniciação – com uma cerimônia própria para tal – ou por Comunicação – sem necessidade de cerimonial próprio, devendo, contudo, ser estudados, para serem testados antes da próxima Iniciação.
Após ter completado seis meses de Mestre Maçom, o candidato aos Altos Graus do REAA, tem 12 Graus Iniciáticos, devendo respeitar os interstícios entre eles. Os Graus 4, 9, 14, 15, 18, 19, 22, 28, 30, 31, 32 e 33 são Iniciáticos. Os demais entre eles são colados por Comunicação.
Veja a tabela abaixo sobre os interstícios exigidos:

GRAU 4, 9, 14, 15, 18,19
6 MESES ENTRE CADA GRAU INICIÁTICO
GRAU 19, 22, 28, 30
4 MESES ENTRE CADA GRAU INICIÁTICO
GRAU 30 ao 31
6 MESES
GRAU 31 ao 32
3 MESES
GRAU 32 ao 33
12 MESES

Tudo isso é interstício mínimo, podendo levar muito mais tempo para se passar de um Grau a outro!
Desta forma, basta fazermos as contas e vamos encontrar um valor “mágico”: 93 meses!!! Isto corresponde a 7 anos e 9 meses.

Logo, em condições ideais, em menos de 8 anos um Maçom pode ir do Grau 1 ao 33, no REAA. Mas, isso é apenas teórico. Na realidade, no dia-a-dia partindo pedra, as coisas podem não andar bem assim... Mas o que vale não é colar Graus, mas sim, adquirir conhecimento e aprimoramento moral! Esta é a verdadeira busca da Maçonaria: A constante e incansável busca da Verdade!

Por Ir.'. Diego de Almeida 33.'.


segunda-feira, 10 de fevereiro de 2020

O HUMILDE CONSTRUTOR

Simples assim:
Sem nomes, sem glórias;
Sem coroas, nem jóias;
Só carne, ossos e coração.

Então me diz:
Onde venceu o cavalheiro?
Onde caiu o Rei?
Onde te olhaste no espelho?

O que viram teus olhos?
Quais segredos da muda boca
as lápides hão de guardar?

Viste, aprendeste, calaste!
De rudes pedras um templo erigiste.
És hoje muito mais do que foste!

Por Diego de Almeida
Aos 10 dias do Segundo mês do Ano da Glória de 2020

terça-feira, 28 de janeiro de 2020

75 ANOS DA LIBERTAÇÃO DE AUSCHWITZ

Tropas soviéticas libertam os prisioneiros do campo de concentração nazista de Auschwitz, na Polônia, em 27 de janeiro de 1945 — Foto: Oleg Ignatovich/Sputnik via AFP

A segunda Grande Guerra, sem dúvida, foi um episódio marcante na história da humanidade e uma ferida ainda aberta, sangrante, que levará muita décadas ainda para cicatrizar, mas, certamente, jamais será esquecida - suas marcas perdurarão para sempre!

Quando os nazistas chegaram ao poder na Alemanha, em 1933, iniciou-se uma perseguição aos judeus. Nessa primeira etapa da campanha para erradicar a população judaica na Europa, foram-lhes confiscados propriedades, direitos e liberdades. Depois da invasão alemã à Polônia em 1939, os nazistas começaram a deportar judeus da Alemanha e da Áustria para o país, onde criaram guetos para separá-los do resto da população. Em maio de 1940, Auschwitz foi transformado em uma prisão para presos políticos. Em 1941, durante a invasão alemã na União Soviética, os nazistas começaram de fato a campanha de extermínio. Seis milhões de judeus foram mortos no Holocausto e Auschwitz está no centro do genocídio. Estima-se que, em menos de quatro anos, ao menos 1,1 milhão de pessoas foram mortas no campo de concentração polonês. Quase 1 milhão era judeu.* As vítimas levadas a campos de concentração eram mantidas em situação deplorável, trabalhavam até a morte ou eram levadas a câmaras de gás. Em 27 de janeiro de 1945, tropas soviéticas entraram no campo de concentração e encontraram os sobreviventes magros, torturados e exaustos. Apenas cerca de 7 mil prisioneiros esqueléticos e doentes terminais tinham sobrevivido, sendo que 500 deles eram crianças. Poucos conseguiam ficar de pé, muitos estavam deitados no chão, apáticos.

* - Não apenas judeus foram aprisionados e mortos em campos de concentração, mas todas e qualquer minoria, contrária as ideias puristas ou à política nazista, também o foi, entre eles, alemães de ideologia comunista ou social-democrata, ciganos da etnia Romani, Testemunhas de Jeová, homossexuais, Maçons, e outros acusados de exibirem comportamento "anti-social" ou fora dos padrões sociais.

A luta contra a intolerância e o preconceito, a favor da igualdade e fraternidade, para que um mundo mais justo e perfeito possa ser criado não é mera utopia. É tarefa árdua, persistente e factível, que depende de cada ser humano, começando dentro de casa, pela educação de suas crianças, e se espalhando por todos os locais onde transitar.

Lembremos de Auschwitz, para que nunca mais se repita!