Imagine a situação: você chega em casa depois de um dia exaustivo. O trânsito estava caótico, o trabalho foi estressante e tudo o que você deseja é um pouco de paz. E ali, naquela sala simples, naquela cozinha onde o café tem gosto de aconchego, está alguém que te conhece nos detalhes. Alguém que talvez não diga a coisa perfeita, mas oferece um sorriso sincero, um gesto de cuidado, um silêncio acolhedor.
É nesse cenário cotidiano que se constrói o verdadeiro valor do convívio. São nesses momentos de cansaço, nos desencontros da rotina, que pequenos gestos fazem toda a diferença: um elogio despretensioso, um bilhete na geladeira, um abraço fora de hora... São essas pequenas gentilezas, cultivadas como se regássemos um jardim, que fortalecem os laços e impedem que a distância emocional se instale mesmo quando se divide o mesmo teto.
A tolerância, aqui, não é aceitar tudo calado, mas compreender que o outro, com suas imperfeições e manias, também está lutando suas próprias batalhas. O respeito mútuo floresce quando entendemos que não estamos ali para “vencer” o outro, mas para caminhar juntos. E o amor, esse amor maduro, é como um rio que se molda ao terreno, contornando pedras, absorvendo as chuvas e seguindo firme em sua direção.
Em tempos onde tudo é descartável, inclusive relações, vale lembrar que vínculos duradouros não se constroem apenas com promessas ou afinidades momentâneas. Eles exigem trabalho, paciência, presença. Exigem, sobretudo, o compromisso com o bem-estar mútuo, com a construção de um “nós” que sobreviva aos ventos e às tempestades da vida.
E, no final das contas, é isso que todos buscamos: alguém com quem dividir não só a cama, mas os silêncios, as dores, os sonhos e as conquistas. Alguém que esteja ali, ao seu lado, rindo com você dos pequenos desentendimentos do dia, depois de quarenta e sete anos... se aguentando – e se amando.
Obs.: Eu comecei a escrever este texto em 17/12/2020... só terminei hoje. Infelizmente, a minha paciente faleceu ano passado. Mas a cumplicidade e o carinho entre o casal perdurou até seus últimos momentos.
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