sábado, 18 de fevereiro de 2012

O QUE ESTÁ HAVENDO COM OS MÉDICOS???

(http://www.sadalla.com.br/website/int-pt/index.php?id=pacientes&area=doencas&pagina=pterigio)


Em uma rápida pesquisa na Wikipédia, podemos descobrir que "o pterígio é um espessamento vascularizado da conjuntiva de forma triangular que se estende do ângulo interno (nasal) do olho em direção à córnea. Não é infeccioso, mas pode afetar a visão. Pode ser tratado através de remoção cirúrgica."
No caso, é uma patologia oftalmológica e sendo assim, tratada pelo oftalmologista (oculista, como costumam nominar os leigos). 
Imaginem então, qual não foi a minha surpresa quando, em meu consultório, recebi uma paciente com queixa de "vasinhos nos olhos". Para quem não sabe, eu sou cirurgião vascular.
Bem, vocês diriam, a paciente é leiga e não tem culpa de achar que "vasinhos nos olhos" é da competência de quem cuida dos vasos, não é mesmo? Pois é, até seria assim, se na verdade a paciente não viesse por encaminhamento de outro médico. Mas um médico generalista, um recém-formado, talvez, ainda com pouca experiência? Não!!! Pasmem (como eu também fiquei pasmo!); a paciente veio com encaminhamento de um oftalmologista! Exatamente isso: um oftalmologista - cujo nome preservarei por questões éticas, mas que com certeza jamais indicarei para alguém - encaminhou para mim, um cirurgião vascular, um paciente com queixa oftalmológica, com solicitação de "avaliação e conduta para telangiectasias de conjuntiva". Confesso que o termo é novo para mim… contudo, em uma breve inspeção da paciente, na minha relativa ignorância em relação aos conhecimentos oftalmológicos, julguei que o que aquela paciente tinha era um processo inicial de pterígio, algo relativamente semelhante com a foto postada acima. Com o máximo de discrição e jeito que pude ter, tentei orientar a paciente a procurar uma segunda opinião de outro oftalmologista, ao que ela de pronto aceitou.
Por Cristo!!! O que está acontecendo? Profissionais que se especializam em uma área e encaminham para outros justamente casos pertinentes a sua especialidade! Logo, teremos ortopedistas encaminhando fraturas para o fisiatra; Cardiologistas mandando pacientes com insuficiência cardíaca descompensada para o nefrologista; Neurologistas recebendo pacientes esquisofrênicos de seus colegas psiquiatras; E vasculares atendendo tudo quanto é "problema de má-circulação" e "dores nas pernas" encaminhados por tudo quanto é especialista… Como diria meu amigo, sócio e ex-professor, Dr. Jorge Timi, "seria o vascular um pernólogo", já que nossa especialidade acaba atendendo pacientes com dores nos membros inferiores das mais diversas etiologias e, na maioria das vezes, não relacionadas com quadros vasculares.
Mas não para por aí o meu estarrecimento em relação à situação da classe médica. No domingo, dia 12 de fevereiro, passado, ocorreu em nossa cidade de Curitiba, um concurso público municipal para compor o quadro de funcionários para o Hospital do Idoso Drª Zilda Arns, CMUMs (Centro Municipal de Urgências Médicas) e SAMU (Serviço de Atendimento Médico de Urgência), nas mais diversas áreas. Por conta disso, os médicos que trabalham atualmente nos CMUMs terão seus contratos encerrados em pouco tempo e, aqueles que intentavam manter seus postos, obrigatoriamente precisaram prestar o concurso. Ocorre que uma parcela imensa desses profissionais não atingiram a nota de corte de 60%!!! Ou seja, acertaram menos de 24 das 40 questões da prova! 
O que é pior, é que diante disso, já há rumores de que a nota de corte da prova será reduzida para que se possa preencher as vagas de médicos nos CMUMs. 
Verdade ou não, é um absurdo saber que nossos colegas estejam tão despreparados. É aterrador ver que os profissionais saem tão mal-formados de suas faculdades e/ou residências médicas. É entristecedor ver tantos médicos ensimesmados, endeusando-se, quando na verdade, não passam de simples seres humanos imperfeitos e falhos como todos os demais!
O que está ocorrendo com nossa sociedade? Com nossos profissionais? E então, nesse assunto, não só na área de saúde, mas com todos os setores laborativos. Como é possível nossas universidades despejarem no mercado miríades de recém-mal-formados a cada semestre? Onde está o seu comprometimento com a educação e com a formação desses indivíduos que, muitas vezes, trabalharão com o público, para a população, prestando-lhes serviços nas mais diversas áreas, inclusive, em  setores vitais como saúde, segurança e educação?
Confesso que pensando no tema fiquei um pouco decepcionado e deprimido, mas também, tive mais certeza da importância de fazer meu trabalho sempre melhor, não me contentando em oferecer qualidade, mas sim, excelência!
Fraternos Abraços
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