Como muitos sabem, sou médico cirurgião vascular. Como tal, atendo muitos pacientes com vários problemas relacionados à circulação sangüínea. O grosso de atendimento de um cirurgião vascular, invariavelmente, são pacientes com varizes. Atendemos desde pacientes com varizes em estado avançado, com ulcerações em pernas, flebites e tromboses, até pacientes com pequenos vasos superficiais (telangiectasias) de cunho puramente estético.
Puxando a questão, até que ponto as queixas e problemas estéticos são realmente "apenas estéticos" e não se configuram problemas de saúde também? Muitas pacientes chegam no consultório queixando-se que não colocam uma saia ou uma roupa mais curta pois tem vergonha das pernas. Algumas chegam a relatar que não se despem na frente de seus companheiros para não lhes expor suas pernas. Praias, piscinas, clubes, são locais "proibidos" para outras... Fugindo um pouco da minha área, aquela moça completamente retraída que evita sair para a "balada" e usar roupas mais decotadas, pois seus seios são muito pequenos; ou aquela pessoa que desde os tempos de escola sempre recebeu apelido de "Dumbo" em decorrência de suas orelhas de abano; ou ainda, quem tem um nariz torno ou muito grande e recebe apelidos jocosos, retraindo-se por tal. Não seriam todas estas pessoas doentes? As questões que lhes causam incômodo, por mais que sejam estéticas, do ponto de vista de saúde, geram transtornos psicológicos e, sendo assim, não poderiam ser encaradas como doenças, também?
Mas voltando ao que me levou a escrever este texto, o fato foi algo ocorrido com uma de minhas pacientes. Não vou citar seu nome, pois não viria ao caso; mesmo também, que não pedi sua prévia autorização.
A moça em questão procurou-me em meu consultório em meados de 2012 com queixa de dores nas pernas devido a calibrosas varizes que possuía. Não obstante as dores, tinha também muita vergonha de suas pernas, o que de certa forma a obrigava a "escondê-las" com roupas compridas, apesar de sua beleza e de sua pouca idade de 23 anos. Fizemos exames diagnósticos e preparatórios e, em dezembro do mesmo ano, realizamos sua cirurgia para ressecção dos vasos varicosos. Nos retornos pós-operatórios, apesar de estar contente por não apresentar mais varizes e ter melhorado a estética de seus membros inferiores, ainda apresentada dores e edemas (inchaços) dos mesmos. Repetimos o EcoDoppler (exame de ultrassonografia para estudar circulação do sangue) que evidenciou refluxo em veias profundas das panturrilhas, popularmente conhecido como "varizes internas". Esta é uma condição relativamente frequente e cujo tratamento é iminentemente clínico, sem uso de cirurgias. Assim procedemos, prescrevendo meias elásticas medicinais e medicações para estimular a circulação venosa. Poucos dias atrás, ela retornou para uma consulta. Estava radiante e nem parecia a mesma mulher de poucos meses atrás! Relatou-me muito emocionada que o tratamento dera certo, que não havia mais dores ou edemas e que suas pernas estavam belas, motivo pelo qual já não tinha mais vergonha de as mostrar. Contudo, o que a deixava mais feliz e pelo que ela estava mais grata a mim, era o fato de poder ter calçado um sapato de salto alto e usado um vestido pela primeira vez depois de 5 anos, sem ter medo da dor ou vergonha de mostrar as pernas, coisa que fez dias antes quando fora convidada para um casamento.
Aí eu levanto a questão: que relevância pode ter usar um vestido ou calçar um sapato de salto? Depende... Para muitas pessoas pode não ter importância alguma. Mas para aquela minha paciente, importava muito, sim! Tratar seu problema de saúde e estético possibilitou a ela realizar coisas que não fazia, a usar roupas e calçados que não usava, a ser uma pessoa diferente, a ser mais mulher e senhora de si... a ser feliz!
Não precisamos de casas luxuosas ou de carros importados. Não precisamos de muito dinheiro ou de sucesso. Não precisamos que os outros nos aplaudam, papariquem e nos invejem. Não precisamos de nada grandioso para sermos realmente feliz. A felicidade está em quem somos, no que fazemos e não naquilo que temos. A felicidade está em pequenas coisas, não nas grandes...
A felicidade no pequeno ato de usar sapato de salto alto!
Mas voltando ao que me levou a escrever este texto, o fato foi algo ocorrido com uma de minhas pacientes. Não vou citar seu nome, pois não viria ao caso; mesmo também, que não pedi sua prévia autorização.
A moça em questão procurou-me em meu consultório em meados de 2012 com queixa de dores nas pernas devido a calibrosas varizes que possuía. Não obstante as dores, tinha também muita vergonha de suas pernas, o que de certa forma a obrigava a "escondê-las" com roupas compridas, apesar de sua beleza e de sua pouca idade de 23 anos. Fizemos exames diagnósticos e preparatórios e, em dezembro do mesmo ano, realizamos sua cirurgia para ressecção dos vasos varicosos. Nos retornos pós-operatórios, apesar de estar contente por não apresentar mais varizes e ter melhorado a estética de seus membros inferiores, ainda apresentada dores e edemas (inchaços) dos mesmos. Repetimos o EcoDoppler (exame de ultrassonografia para estudar circulação do sangue) que evidenciou refluxo em veias profundas das panturrilhas, popularmente conhecido como "varizes internas". Esta é uma condição relativamente frequente e cujo tratamento é iminentemente clínico, sem uso de cirurgias. Assim procedemos, prescrevendo meias elásticas medicinais e medicações para estimular a circulação venosa. Poucos dias atrás, ela retornou para uma consulta. Estava radiante e nem parecia a mesma mulher de poucos meses atrás! Relatou-me muito emocionada que o tratamento dera certo, que não havia mais dores ou edemas e que suas pernas estavam belas, motivo pelo qual já não tinha mais vergonha de as mostrar. Contudo, o que a deixava mais feliz e pelo que ela estava mais grata a mim, era o fato de poder ter calçado um sapato de salto alto e usado um vestido pela primeira vez depois de 5 anos, sem ter medo da dor ou vergonha de mostrar as pernas, coisa que fez dias antes quando fora convidada para um casamento.
Aí eu levanto a questão: que relevância pode ter usar um vestido ou calçar um sapato de salto? Depende... Para muitas pessoas pode não ter importância alguma. Mas para aquela minha paciente, importava muito, sim! Tratar seu problema de saúde e estético possibilitou a ela realizar coisas que não fazia, a usar roupas e calçados que não usava, a ser uma pessoa diferente, a ser mais mulher e senhora de si... a ser feliz!
Não precisamos de casas luxuosas ou de carros importados. Não precisamos de muito dinheiro ou de sucesso. Não precisamos que os outros nos aplaudam, papariquem e nos invejem. Não precisamos de nada grandioso para sermos realmente feliz. A felicidade está em quem somos, no que fazemos e não naquilo que temos. A felicidade está em pequenas coisas, não nas grandes...
A felicidade no pequeno ato de usar sapato de salto alto!
Abraços Fraternos
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