Este final de semana eu tive a oportunidade de vivenciar uma experiência muito intensa e desconfortável, mas que em contrapartida, permitiu-me algumas reflexões.
Vinha eu já há alguns dias com um pouco de dor no pescoço e no braço esquerdo, fruto de um "torcicolo" ou de um "mal-jeito" ao dormir, pensava eu, mas que estava respondendo muito bem a analgésicos e quase não me estava atrapalhando as atividades diárias. Contudo, na manhã deste sábado, acordei com uma sensação incômoda que não consegui decifrar direito o que era, de início. Ao levantar-me da cama, senti como que um puxão em meu ombro esquerdo, imediatamente seguido por uma dor lancinante que correu-me todo membro superior esquerdo, desde o pescoço até as extremidades dos dedos. Achei que fosse apenas uma cãibra mais forte e levantei-me da cama, mas não consegui esticar o pescoço. Conforme andava em direção ao banheiro, a cada passo da dava, a dor se intensificava ao ponto de não conseguir pensar em mais nada… segurava meu braço esquerdo com o direito, levantava-o, mexia-o, mas nada… desci ao andar térreo de nosso sobrado, onde guardo os receituários; preenchi uma receita de codeína e outros anti-inflamatórios, carimbei, e fui cambaleando até o quarto do meu cunhado, para pedir-lhe que fosse à farmácia para mim. Enquanto o mesmo fazia este favor, liguei para o hospital e pedi que fosse cancelada a cirurgia que eu tinha marcada para aquela manhã. Voltei à cama e tentei encontrar uma posição que fosse menos incômoda. Meu cunhado chegou com a medicação e tomei 50 mg de codeína e 50 mg de diclofenaco, fora o relaxante muscular e outros anti-inflamatórios que já havia tomado. Por volta de dez horas da manhã, ainda não havia melhorado quase nada, então, tomei outra dose do meu coquetel farmacológico. Duas horas após, estava um pouco melhor, mas mesmo assim, tomei a terceira dose do medicamento. Tinha um almoço marcado com meus irmãos e tive que pedir ao meu cunhado para servir de chofer para mim e minha esposa. Fui no banco de trás da minha camioneta, com o pescoço dobrado em um angulo estranho e o ombro esquerdo projetado para trás. No decorrer do dia, a dor foi cedendo aos poucos enquanto surgia um formigamento na ponta dor dedos. Continuei tomando as medicações de horário e, na manhã de Domingo, já estava menos mal. Porém, ainda não podia dirigir direito, então não pudemos ir para Caiobá, onde nossos amigos iriam se reunir para uma confraternização. No terceiro dia de minha odisséia álgica, acordei com bem menos dor, mas a parestesia da mão e dedos esquerdos estava maior. Fui trabalhar (consegui dirigir, mesmo com um pouco de dificuldade e com cuidados redobrados), mas logo que voltei pra casa, agendei uma ressonância magnética de coluna cervical - acho que estou com uma hérnia discal cervical! Agora é fazer o exame, mostrar para um colega neurocirurgião e ver o que acontece…
Pois bem... e porque eu estou comentando tudo isso? Justamente porque este fato me fez refletir. Mesmo com dor, eu podia andar, pensar, discernir o certo do errado, falar, e o que mais. Contudo, aquela sensação de dor urrava aos meus ouvidos como uma sirene e piscava como letreiros de néon aos meus olhos com os dizeres, em amarelo e vermelho : "ATENÇÃO! PERIGO!" Eu sabia o que eu precisava fazer, mas toda minha vontade era suplantada pela torrente de dor e pelo terror da incapacidade gerada por ela.
O decorrer da situação, a necessidade de outras pessoas comprarem medicação para mim, de me levarem para um ou outro lugar; a incapacidade de realizar minhas tarefas diárias, mesmo as mais simples como beber um copo d'água, abraçar um parente ou amigo, deitar e recostar-me em um travesseiro; a impossibilidade de agir com liberdade e reagir pronta e plenamente ao mundo que me cerca; tudo isso me fez perceber como a incapacidade física é uma barreira ao bem viver e como as pessoas sofrem com isso.
No meu caso, estou melhorando e posso dizer que a incapacidade foi (ou é) transitória. Mas, quantos de nossos irmãos não se encontram em situação de dependência de outras pessoas devido incapacidades que possuem? Quantos não se sentem diminuídos por se julgarem incompletos, falhos, imperfeitos? quantos não perdem sua vida simplesmente por acharem que não a conseguem viver?
Como disse, e isso eu só percebi depois, na hora que me descobri cego pelas dores, o que mais me incapacitava não era a dor em si, mas o medo da situação desconhecida. Foi pensando nisso que eu percebi como muitas pessoas são verdadeiras guerreiras! Pessoas com algum tipo de deficiência físico, mental ou intelectual, mas que mesmo assim, aprenderam a conviver com suas condições especiais e levam a vida da forma que lhes é possível, sem se deixarem abater quando a vida lhes dá uma rasteira ou outras pessoas as julgam incapazes e dependentes.
Incapacidade em realizar determinada função não significa necessariamente dependência. Pessoas com necessidades especiais podem ser tão independentes quanto qualquer outro ser humano que o nosso grande mestre do Universo colocou neste mundo; podem adaptar-se de tal forma que, mesmo sem braços e pernas, podem levar uma vida quase normal, estudar, trabalhar, inter-relacionar-se com outras pessoas e ainda servir de exemplo a elas.
A bem da verdade, tenho um exemplo desses em minha própria casa: Minha esposa Raquel sofreu de Aspergilose Cerebral, que a obrigou a passar por um longo, penoso e caro (mas que foi custeado pelo Sistema Única de Saúde) tratamento, com poucas chances de melhora, mas ela saiu viva, no final… com seqüelas de fala e memória, hemiparalisada à direita, cadeirante… mas viva! Com o passar do tempo, com muita força de vontade própria e com a ajuda da família, claro, ela já anda, conversa, usa aparelhos eletrônicos e internet, escreve, pinta quadros e telas, faz bordados lindos em ponto-cruz. Ela é até mais independente que gostaríamos que fosse, pois, em nosso pensamento pequeno e egoísta, achamos que toda esta independência que ela busca dia-a-dia para si, pode, de alguma forma, pô-la em algum perigo. Mas ela prova para mim e para todos que quiserem ver que, mesmo incapaz de realizar tudo que queira, está cada vez mais independente dos outros e que logo poderá cuidar de outro alguém, se quiser, ao invés de ser cuidada.
Incapacidade não significa dependência! Agora sei disso… Que o diga minha amada Raquel! Que o diga Nick Vujicic (Vida sem Membros)! Que o diga qualquer um dos "incapacitados" de nossa sociedade que diariamente dão um show de independência e de força de vontade!
Pense nisso!!!
Vinha eu já há alguns dias com um pouco de dor no pescoço e no braço esquerdo, fruto de um "torcicolo" ou de um "mal-jeito" ao dormir, pensava eu, mas que estava respondendo muito bem a analgésicos e quase não me estava atrapalhando as atividades diárias. Contudo, na manhã deste sábado, acordei com uma sensação incômoda que não consegui decifrar direito o que era, de início. Ao levantar-me da cama, senti como que um puxão em meu ombro esquerdo, imediatamente seguido por uma dor lancinante que correu-me todo membro superior esquerdo, desde o pescoço até as extremidades dos dedos. Achei que fosse apenas uma cãibra mais forte e levantei-me da cama, mas não consegui esticar o pescoço. Conforme andava em direção ao banheiro, a cada passo da dava, a dor se intensificava ao ponto de não conseguir pensar em mais nada… segurava meu braço esquerdo com o direito, levantava-o, mexia-o, mas nada… desci ao andar térreo de nosso sobrado, onde guardo os receituários; preenchi uma receita de codeína e outros anti-inflamatórios, carimbei, e fui cambaleando até o quarto do meu cunhado, para pedir-lhe que fosse à farmácia para mim. Enquanto o mesmo fazia este favor, liguei para o hospital e pedi que fosse cancelada a cirurgia que eu tinha marcada para aquela manhã. Voltei à cama e tentei encontrar uma posição que fosse menos incômoda. Meu cunhado chegou com a medicação e tomei 50 mg de codeína e 50 mg de diclofenaco, fora o relaxante muscular e outros anti-inflamatórios que já havia tomado. Por volta de dez horas da manhã, ainda não havia melhorado quase nada, então, tomei outra dose do meu coquetel farmacológico. Duas horas após, estava um pouco melhor, mas mesmo assim, tomei a terceira dose do medicamento. Tinha um almoço marcado com meus irmãos e tive que pedir ao meu cunhado para servir de chofer para mim e minha esposa. Fui no banco de trás da minha camioneta, com o pescoço dobrado em um angulo estranho e o ombro esquerdo projetado para trás. No decorrer do dia, a dor foi cedendo aos poucos enquanto surgia um formigamento na ponta dor dedos. Continuei tomando as medicações de horário e, na manhã de Domingo, já estava menos mal. Porém, ainda não podia dirigir direito, então não pudemos ir para Caiobá, onde nossos amigos iriam se reunir para uma confraternização. No terceiro dia de minha odisséia álgica, acordei com bem menos dor, mas a parestesia da mão e dedos esquerdos estava maior. Fui trabalhar (consegui dirigir, mesmo com um pouco de dificuldade e com cuidados redobrados), mas logo que voltei pra casa, agendei uma ressonância magnética de coluna cervical - acho que estou com uma hérnia discal cervical! Agora é fazer o exame, mostrar para um colega neurocirurgião e ver o que acontece…
Pois bem... e porque eu estou comentando tudo isso? Justamente porque este fato me fez refletir. Mesmo com dor, eu podia andar, pensar, discernir o certo do errado, falar, e o que mais. Contudo, aquela sensação de dor urrava aos meus ouvidos como uma sirene e piscava como letreiros de néon aos meus olhos com os dizeres, em amarelo e vermelho : "ATENÇÃO! PERIGO!" Eu sabia o que eu precisava fazer, mas toda minha vontade era suplantada pela torrente de dor e pelo terror da incapacidade gerada por ela.
O decorrer da situação, a necessidade de outras pessoas comprarem medicação para mim, de me levarem para um ou outro lugar; a incapacidade de realizar minhas tarefas diárias, mesmo as mais simples como beber um copo d'água, abraçar um parente ou amigo, deitar e recostar-me em um travesseiro; a impossibilidade de agir com liberdade e reagir pronta e plenamente ao mundo que me cerca; tudo isso me fez perceber como a incapacidade física é uma barreira ao bem viver e como as pessoas sofrem com isso.
No meu caso, estou melhorando e posso dizer que a incapacidade foi (ou é) transitória. Mas, quantos de nossos irmãos não se encontram em situação de dependência de outras pessoas devido incapacidades que possuem? Quantos não se sentem diminuídos por se julgarem incompletos, falhos, imperfeitos? quantos não perdem sua vida simplesmente por acharem que não a conseguem viver?
Como disse, e isso eu só percebi depois, na hora que me descobri cego pelas dores, o que mais me incapacitava não era a dor em si, mas o medo da situação desconhecida. Foi pensando nisso que eu percebi como muitas pessoas são verdadeiras guerreiras! Pessoas com algum tipo de deficiência físico, mental ou intelectual, mas que mesmo assim, aprenderam a conviver com suas condições especiais e levam a vida da forma que lhes é possível, sem se deixarem abater quando a vida lhes dá uma rasteira ou outras pessoas as julgam incapazes e dependentes.
Incapacidade em realizar determinada função não significa necessariamente dependência. Pessoas com necessidades especiais podem ser tão independentes quanto qualquer outro ser humano que o nosso grande mestre do Universo colocou neste mundo; podem adaptar-se de tal forma que, mesmo sem braços e pernas, podem levar uma vida quase normal, estudar, trabalhar, inter-relacionar-se com outras pessoas e ainda servir de exemplo a elas.
A bem da verdade, tenho um exemplo desses em minha própria casa: Minha esposa Raquel sofreu de Aspergilose Cerebral, que a obrigou a passar por um longo, penoso e caro (mas que foi custeado pelo Sistema Única de Saúde) tratamento, com poucas chances de melhora, mas ela saiu viva, no final… com seqüelas de fala e memória, hemiparalisada à direita, cadeirante… mas viva! Com o passar do tempo, com muita força de vontade própria e com a ajuda da família, claro, ela já anda, conversa, usa aparelhos eletrônicos e internet, escreve, pinta quadros e telas, faz bordados lindos em ponto-cruz. Ela é até mais independente que gostaríamos que fosse, pois, em nosso pensamento pequeno e egoísta, achamos que toda esta independência que ela busca dia-a-dia para si, pode, de alguma forma, pô-la em algum perigo. Mas ela prova para mim e para todos que quiserem ver que, mesmo incapaz de realizar tudo que queira, está cada vez mais independente dos outros e que logo poderá cuidar de outro alguém, se quiser, ao invés de ser cuidada.
Incapacidade não significa dependência! Agora sei disso… Que o diga minha amada Raquel! Que o diga Nick Vujicic (Vida sem Membros)! Que o diga qualquer um dos "incapacitados" de nossa sociedade que diariamente dão um show de independência e de força de vontade!
Pense nisso!!!
Abraços Fraternos
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