SEGREDOS DA
CAPELA ROSSLYN – OS CAVALEIROS TEMPLÁRIOS E A MAÇONARIA
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A história da Maçonaria é distorcida por
defesas ideológicas que pretendem impor uma visão preconcebida sobre as provas
documentais sem o mínimo rigor histórico.
Assim como os obreiros operativos do
século XV construíam seus templos e Igrejas sobre o alicerce sólido das pedras
e da argamassa o historiador deve construir suas interpretações baseado na
sobriedade dos documentos. Provas imagéticas, escritas e materiais que
corroborem e permitam a mínima interpretação dos fatos são essenciais.
Falar da ligação entre Templários e
Maçonaria, procurando pontes, transferências e transposições é como procurar as
soluções para uma equação de duas incógnitas que convergem: o que antecede e
leva à formalização da Maçonaria nos princípios do século XVIII e o que sucede
e permanece depois da dissolução dos Templários e do ato papal de Clemente II
durante o século XIV. São mais de 400 anos que separam o fim dos Cavaleiros
Templários e a fundação da Grande Loja de Londres.
Essa influência, no entanto, está presente
em nossa ritualística, na organização juvenil patrocinada pela Maçonaria: a
Ordem Demolay e em vários outros aspectos de nossa Ordem. De onde ela vem? Ela
é uma origem direta ou uma incorporação posterior?
Em primeiro lugar, a Maçonaria moderna só
foi “fundada” em 1717. As agremiações que fomentaram a Maçonaria, segundo
pesquisas da loja Quatuor Coronati de Londres, são modernas, o registro mais
antigo sendo do século XVI. Mas a bula papal dissolvendo os Templários data de
1312. Como foi possível os Templários fundarem a Maçonaria? Nesse instante
podemos nos perguntar: Há provas documentais que liguem a Maçonaria aos
Cavaleiros Templários? Evidências? Suspeitas? Sim, elas existem. A mais
intrigante delas é a Capela Rosslyn em Edimburgo na Escócia.
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A capela tornou-se extremamente popular
após aparecer no romance O código Da Vinci e no filme de mesmo nome. Apesar de
ser uma obra de ficção, o autor Dan Brown utilizou de evidências históricas
para confeccioná-la o que apenas aumentou as especulações sobre essa misteriosa
capela.
Como vimos 400 anos separam a criação da
Grande Loja de Londres e o fim dos Cavaleiros Templários. Exatamente nesse
intervalo encontra-se a Capela Rosslyn. Suas fundações remontam ao século XV,
em 1446. Em seu interior encontram-se fortes evidências de uma possível ligação
entre os Templários e a Maçonaria. Ela foi um projeto de Willian Saint Clair um
nobre do século XV e patrono da associação local de pedreiros.
Como sabemos, os cavaleiros templários
faziam parte da Ordem do Templo, ordem cristã de cavalaria fundada em 1118 para
proteger os peregrinos que viajavam até a Terra Santa. Durante sua atuação em
toda Europa e Ásia menor construíram muitas Igrejas, frequentemente em forma
circular, similar a Igreja do Santo Sepulcro de Jerusalém. Um dos exemplos
desta arquitetura é a Igreja Templária em Londres. Como podemos ver abaixo um
dos símbolos dos “pobres cavaleiros de Cristo” era a representação de dois
cavaleiros sobre uma só montaria. Este símbolo ressalta o sentimento de
irmandade e humildade da Ordem. Abaixo à esquerda encontra-se a estátua da
Igreja Templária em Londres, à direita encontra-se a estátua que ornamenta a
capela Rosslyn.
Outros indícios nos levam a crer na correlação
entre a capela Rosslyn, a Maçonaria e os templários. A estrutura do prédio da
capela é idêntica ao templo judeu de Herodes, que substituiu o famigerado
templo de Salomão. Como sabemos, o templo de Salomão é palco de uma lenda
central para os maçons: a morte de Hiram Abiff, o construtor assassinado por
aprendizes invejosos. Repleta de entalhes e esculturas, a capela Rosslyn possui
em uma de suas colunas um mito correspondente à lenda maçônica: o pilar do
aprendiz.
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No entanto, talvez a mais intrigante
escultura seja a que veremos abaixo. Nela, teoricamente, podemos ver um
candidato sendo iniciado. Há uma corda em torno do pescoço do candidato e uma
venda que lhe oculta os olhos. Quem o segura, logo atrás, aparece com uma cruz
templária no peito. As confluências entre esta imagem e o ritual moderno de
iniciação da Maçonaria especulativa são, no mínimo, intrigantes.
Esse enigma construído em pedra parece
tornar-se ainda mais nebuloso à medida que nos debruçamos sobre ele. Ela sugere
através de suas imagens e alegorias que os Templários tiveram relação com sua
construção 150 anos após terem sido extintos. Ao mesmo tempo, alimentam a ideia
de que a Maçonaria fez representar ali seus símbolos e sua suposta ligação com
os Pobres Cavaleiros de Cristo, 250 anos antes de sua fundação formal.
Não podemos afirmar que nenhum templário
sobrevivente ao massacre promovido por Felipe, o Belo e o Papa Clemente II
tenha mais tarde ingressado nas antigas ordens de construtores da Maçonaria
operativa e influenciado sua ritualista. No fundo há uma transição essencial
que assenta no fato de que a Maçonaria especulativa tenha herdado as vivências
das sociedades anteriores então organizadas na Maçonaria operativa; essa
transição foi necessariamente longa, progressiva, não deliberada, diversificada
e por sucessivas incorporações de conhecimento, de saber e de práticas.
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De acordo com o historiador Burman “Em
Portugal, muitos ex-Templários haviam tido permissão para entrar para a nova
ordem de Jesus Cristo, que recebeu propriedades deles naquele país, e manter
sua posição anterior”. Além disso, o autor afirma que nas demais partes da
Europa “muitos continuaram a viver e trabalhar em suas propriedades rurais,
exatamente como faziam antes”. (p. 219)
É minha convicção como historiador que as
organizações maçônicas que aparecem formalmente no século XVIII se encontram
entre o conjunto de instituições que herdaram o conhecimento, as práticas, os
rituais e símbolos templários no que se refere à sua ala oculta. Igual sorte e
benefício tiveram muitas outras organizações, ora centradas na investigação
científica e alquímica, ora no aprofundamento do espiritualismo, do hermetismo
ou dos rituais antigos. Porém, dizer que a Capela Rosslyn é uma prova incontestável
da ligação entre Cavaleiros Templários e Maçonaria não é possível. Essa dúvida
permanecerá como a própria Escócia envolvida em brumas e mistérios.
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