No início dos anos 90 Macaulay Culkin era o menino prodígio
do filme “Esqueceram de mim”, onde um lindo polaquinho loiro era esquecido em
casa no Natal para defender a casa de ladrões malvados e sujos, que vieram de
fora. Outro grande sucesso daquela época era Curitiba. Você abria uma revista
ou ligava TV e lá estava uma matéria elogiosa a Capital Ecológica, Cidade
Modelo, planejada para crescer bem sem perder qualidade de vida e o sorriso.
Passados 15 anos, Macaulay e Curitiba cresceram. E nenhum dos dois foi bem.
Agora a mídia inglesa revelou ao mundo um Macaulay magro,
deteriorado, com cara figurante de filme de zumbi, Curitiba apareceu em matéria
da revista Veja como a sexta capital mais violenta do país e um onde a barbárie
cresceu mais rápido nos últimos tempos. O que deu errado?
Temos hoje diante de nós o desafio do espelho. Curitiba e
Culkin vivem de uma imagem dos anos 90 que só existe em suas mentes. O
transporte é caro e atulhado como de Recife, a desigualdade é igual a Salvador,
as ruas planejadas estão engarrafas como São Paulo, a droga e a violência
correm soltas como no Rio, a corrupção e impunidade são lei como em Brasília, e
somos a uma capital da Copa mais atrasada nas obras. Uhuuu é nóis!!!
A cidade, como uma “Suzana Vieira” de micro vestido, que
insiste em pagar de gatinha mas apenas mostra as papada enrugada e a teta mal
costurada. Por onde se vai, vemos casas, escolas e até hospitais sendo
derrubadas pra dar prédio, farmácia e shoppings. E a praça do Japão, outrora
cartão postal da cidade, tem que lutar pra não virar curva de ônibus.
Fico a imaginar o que Macaulay avista quando se olha no
espelho. Será que ele vê-se hoje ou o menino de ontem? Ou viciado perdido?
Espero que seja o retrato da dor e do descaminho, pois se achar perdido é meio
caminho para achar a saída.
E nós, curitibanos, o que olhamos ?
Eu, a cada vez que olho por minha janela vejo menos verde e
mais construtoras famintas devorando a paisagem. Mas também vejo muita gente
com vontade de mudar e rever as coisas. Pra quê mais um shopping no Bom Retiro?
Vamos voltar pro Passeio Público. Fazer quadras culturais em cada bairro.
Arrumar invés demolir. Foi assim que Nova Iorque, no início dos anos 80, virou
o jogo da degradação para o que é atualmente. O que salvou Nova Iorque foi o
prefeito Edward Irving Koch. Humano e entendedor da sua cidade, ele resgatou no
cidadão a idéia de ele ser a cidade, e vice versa, como um espelho. Assim
limpou bairros do crime e drogas, valorizou áreas de convivência, trocou o
pichado pelo grafite, investiu no metrô e na bicicleta ao invés do carro.
Espero que o Prefeito que foi a posse pedalando, mostre que se equilibra
realmente nesta linha.
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