segunda-feira, 11 de agosto de 2025

Adultização infantil, infantilização de adultos: o ciclo que está destruindo nossa maturidade

 

(https://www.tribunauniao.com.br/noticias/23509/homem-com-31-anos-de-idade-ainda-usa-chupeta-fraldas-e-dorme-em-um-berco)

Adultização infantil, infantilização de adultos: o ciclo que está destruindo nossa maturidade

Vivemos tempos estranhos. Crianças cada vez mais “adultas” e adultos cada vez mais… infantis. É como se tivéssemos invertido as fases da vida, bagunçado as prioridades e confundido valores. Essa distorção não é um acaso — é fruto de uma cultura que vende a imagem acima do conteúdo, a aparência acima da essência. E quem lucra com isso não é, certamente, a infância.

A adultização infantil é aquele fenômeno em que meninas de 12 anos posam como se tivessem 25, meninos de 14 ostentam “vida de milionário” em vídeos e a inocência, que deveria ser o bem mais protegido, vira produto para consumo rápido nas redes sociais. O pior? Muitas vezes, tudo isso com a anuência de adultos que deveriam proteger, não explorar.

O caso recente denunciado pelo youtuber Felca, envolvendo Hytalo Santos, apenas escancarou uma ferida que já estava exposta: existe um mercado — e um público — que consome essa sexualização precoce. Algoritmos alimentam, patrocinadores fecham os olhos e parte da sociedade aplaude, porque “dá engajamento”.

Mas aqui está o ponto mais incômodo: o público que consome esse conteúdo é formado, em grande parte, por adultos emocionalmente imaturos. Pessoas que, ao invés de servir de referência para as novas gerações, competem com adolescentes por atenção, reproduzem gírias e modas adolescentes, vivem para a próxima selfie ou trend. É a infantilização da vida adulta.

Adultos que nunca amadurecem alimentam o ciclo: consomem e validam conteúdo de crianças com comportamentos de adultos, e essas crianças, por sua vez, crescem sem parâmetros saudáveis e se tornam adultos que nunca amadurecem. É uma esteira de produção de imaturidade.

As consequências são sérias. Crianças perdem a infância, pulam etapas essenciais do desenvolvimento emocional, confundem sensualidade com autoestima. Adultos perdem profundidade, evitam responsabilidades e se comportam como eternos adolescentes — mas com a carteirinha de eleitor e CPF no bolso.

E tudo isso, travestido de “liberdade” e “expressão”, na verdade é um retrocesso moral e psicológico. Não é conservadorismo dizer que uma criança não deve ser tratada como um adulto em miniatura. É bom senso. É cuidado. É preservar o que é próprio de cada fase da vida.

Se quisermos quebrar esse ciclo, precisamos falar de responsabilidade. Não só dos pais, mas de quem produz, consome, compartilha e lucra com esse tipo de conteúdo. Precisamos de plataformas que filtrem e punam, de leis aplicadas com rigor, e de adultos que parem de se comportar como adolescentes buscando aprovação no feed.

A infância não pode ser moeda de troca por cliques. E a maturidade não pode ser tratada como uma prisão que devemos evitar. Crescer — de verdade — é um ato revolucionário nos tempos em que vivemos.