quarta-feira, 14 de novembro de 2018

A MAÇONARIA E A PROCLAMAÇÃO DA REPÚBLICA BRASILEIRA

A participação da Maçonaria na Proclamação da República

Por: Waldir Ferraz de Camargo     

A Maçonaria esteve presente em todos os principais acontecimentos históricos do Brasil e que culminaram no país que hoje vivemos. Diferente não poderia ser a sua participação na Proclamação da República. “A partir de hoje, 15 de Novembro de 1889, o Brasil entra em nova fase, podendo se considerar finda a Monarquia, passando a regime francamente democrático com todas as consequências da liberdade.” Assim iniciava o editorial da Gazeta da Tarde, da edição do dia 15, anunciando o levante político-militar que instaurou a forma republicana presidencialista de governo no Brasil, pondo fim à soberania do imperador D. Pedro II.

Esse fato histórico, talvez o mais importante do país, teve como líderes e idealizadores maçons ilustres que hoje figuram nos livros de História, tais como Marechal Deodoro da Fonseca, Benjamim Constante, Rui Barbosa, Silva Jardim, Campos Sales, Quintino Bocaiuva, Prudente de Morais, Aristides Lobo e muitos outros.

A ideia republicana já era antiga no Brasil: nós a vemos na Guerra dos Mascates (1710), na Inconfidência Mineira (1789), na Revolução Pernambucana (1817), na Confederação do Equador (1824) e na Revolução Farroupilha (1835). O país clamava pela República e sua proclamação era uma questão de tempo. O Império estava desgastado e vagarosamente ruía, principalmente após a Guerra do Paraguai (1870) onde o Brasil mesmo sendo vitorioso não soube valorizar o Exército, seu principal agente, causando grande descontentamento na classe militar. A Igreja, por sua vez, queria a liberdade, pois se encontrava submetida ao padroado imperial.

Outro fato importante que fez com o Império perdesse sua sustentação foram as leis antiescravistas: Ventre Livre (1871), Sexagenários (1885) e Áurea (1888), fervorosamente defendidas nas Lojas Maçônicas. Entrelaçando esses e outros fatos a Maçonaria, através das Lojas Vigilância de São Borja (RS) e Independência e Regeneração (ambas de Campinas), aprovaram um manifesto contrário ao advento de um terceiro reinado e enviaram a todas as de demais lojas do Brasil, para que tomassem conhecimento e apoiassem essa causa. Mais uma vez a Maçonaria estava à frente liderando um movimento democrático.

Em 10 de novembro, na casa de Benjamim Constante, diversos maçons se reuniram, entre eles Francisco Glicério e Campos Sales, decidindo marcar para o dia 20 a tomada do poder, tendo à frente o militar de mais alta patente, o marechal Deodoro da Fonseca, que seria o primeiro presidente da República. A data teve de ser antecipada face a um boato ardilosamente arquitetado de que o governo havia mandado prender Deodoro da Fonseca. Confirmado depois que se tratava realmente de um boato.

Assim, na manhã do dia 15, Deodoro, que estava doente em sua casa, atravessou o Campo de Santana e do outro lado do parque conclamou os demais revolucionários ali aquartelados. Ofereceram-lhe um cavalo que nele montou e, segundo testemunhas, tirou o chapéu e gritou: “Viva a República!”. Depois apeou, atravessou o parque e voltou para sua residência. Na tarde do mesmo dia o ato foi confirmado na Câmara Municipal do Rio de Janeiro e oficialmente proclamada a República do Brasil.

Faz-se necessário aqui uma justiça ao imperador D. Pedro II, um homem culto, ponderado, também maçom, que, contrariando a opinião pública, não lutou pelo trono, pois não queria ver derramamento de sangue, reconhecendo que para o Brasil este seria seu novo e melhor destino. Numa atmosfera que se desenhou entre o pasmo e o temor dos monarquistas e admiração dos sensatos, passados apenas dois dias o imperador parte com toda sua família para a Europa, levando com ele meio século de história do Brasil Imperial, deixando renovadas as esperanças de se construir uma nova nação, com bases nos ideais de liberdade, igualdade e fraternidade, cercada pela bonança esperançosa da paz.

O autor é licenciado em história, funcionário público estadual e membro da Loja Maçônica “Deus, Pátria e Família” de Bauru

segunda-feira, 3 de setembro de 2018

MUSEU NACIONAL DA QUINTA DA BOA VISTA - DESCASO, ABANDONO, CORRUPÇÃO E CHAMAS...

Museu Nacional na Quinta da Boa Vista pega fogo - Uanderson Fernandes / Agência O Globo

Entrei naquele espaço, andei por aqueles corredores, admirei todo aquele acervo, senti a energia do passado... jamais o farei novamente... ninguém nunca mais o fará! Foi numa tarde de sol que eu e minha esposa pudemos apreciar tudo aquilo, respirando um ar com misto de cheiro de poeira do tempo com o mofo do abandono... era triste, mas mesmo assim, deslumbrante. Foi em outubro de 2016 e, naquela época, o edifício já clamava por socorro!
Quase dois anos depois, justamente no duocentenário do prédio do Museu Nacional da Quinta da Boa Vista, que fora residência da Família Imperial Brasileira, sobreveio a tragédia! Um incêndio de proporções dantescas arrasou com tudo! Uma perda lastimável e irreparável: centenas de anos de história do Brasil, milhares de anos de história da humanidade, milhões de anos de história do mundo! Sobraram apenas minerais e meteoritos que, não superam o poder destrutivo do homem, mas ainda suportam o das chamas!
Já há 5 anos havia um projeto de combate de incêndio para ser implantado, que era constantemente barrado pelos entraves burocráticos e exigências legais do IPHAN, BNDES e autoridades estaduais e federais. A liberação de alguns milhões de reais (milhões, sim... mas muito menos do que o governo libera de recursos pra trazer um show internacional para o Brasil, a ingressos de 400,00 reais e que só uma parcela bem seleta da população irá usufruir) teria sido suficiente para evitar uma derrocada cultural como esta!
Parece um absurdo falar em "só alguns milhões de Reais", mas, em se comparando com o que se desvia de verbas para abastecer bolsos escusos e mal-intencionados, o valor é um grão de areia diante de um mar de gastos obscenos e descaso com o bem público. 
Um povo sem história é um povo sem futuro! E o Brasil sofre de uma carência crônica de cultura descente e de perspectiva de amanhã melhor.
Meu coração chora a perda, como cidadão, como Brasileiro, como ser humano... 
Perdemos todos: o Rio de Janeiro, o Brasil e o Mundo!
Com um acervo de cerca de 20 milhões de itens, era o quinto maior museu de antropologia do mundo e figurava como importante instituição, não só como Museu que era, mas como laboratório de pesquisa. Peças de vestuário e mobiliário da Família Imperial e do Brasil Colônia e Império, fosseis de dinossauros, insetos, animais de todo tipo, artefatos ameríndios desde eras pré-colombianas, múmias e itens egípcios únicos no mundo, que nem no próprio Egito mais existia; tudo virou cinzas e escombros... 
É-me impossível deixar de imaginar quanto da população brasileira, e da carioca, em especial, realmente tem a noção do tamanho da perda e mais, que parcela que realmente se importa com isso? Quantas das pessoas que hoje são tomadas de assombro com o que houve, amanhã, ou semana que vem, ou no próximo mês, ainda se lembrarão e se indignarão com o ocorrido? 
Entre a labuta diária para ganhar o pão, a angústia da insegurança, a desesperança nas autoridades governamentais que solapam e esfolam a massa humana e a incerteza do que será o dia de amanhã, as fumaças da tragédia vão se dissipando nos ventos do ostracismo e mais um pedaço da história do Brasil e do Mundo vai se perdendo de forma irremediável, silenciosa e solitária.